terça-feira, 16 de abril de 2013

Lendas dos Orixás: Obá

OBÁ CORTA A ORELHA INDUZIDA POR OXUM
Obá por Carybé

Oba e Oxum competiam pelo Amor de Xangô
Cada semana, uma das esposas cuidava de Xangô,
fazia sua comida, servia à sua mesa.
Oxum era a esposa mais amada
e Oba imitava Oxum em tudo,
inclusive nas artes da cozinha,
pois o amor de Xangô começava pelos pratos que comia.
Oxum não gostava de ver Oba copiando suas receitas
e decidiu vencer definitivamente a rival.
Um dia convidou Oba à sua casa,
onde a recebeu usando um lenço na cabeça,
amarrado de modo a esconder as orelhas.
Oxum mostrou a Oba o alguidar onde preparava uma fumegante sopa,
na qual boiavam dois apetitosos cogumelos.
Disse à curiosa Oba que eram suas próprias orelhas,
orelhas que ela cortara, segredou cumplicemente.
Xangô havia de se deleitar com a iguaria.
Não tardou para que ambas testemunhassem o sucesso da receita.
O marido veio comer e o fez com gula, se fartou.
Elogiou sem parar os dotes culinários da mulher.
Oba quase morreu de ciúme.
Na semana seguinte, Oba preparou a mesma comida,
cortou uma de suas orelhas e pôs para cozinhar.
Xangô, ao ver a orelha no prato, sentiu engulhos.
Enjoado, jogou tudo no chão e quis bater na esposa, que chorava.
Oxum chegou nesse momento, exibindo suas intactas orelhas.
Oba num segundo entendeu tudo, odiou a outra mais que nunca.
Envergonhada e enraivecida, precipitou-se sobre Oxum
e ambas se envolveram numa briga que não tinha fim.
Xangô já não suportava tanta discórdia em casa
e esse incidente só fez aumentar a sua raiva.
Ameaçou de morte as briguentas esposas, perseguiu-as.
Ambas tentaram fugir da cólera do esposo.
Xangô procurou alcança-las, lançou o raio contra elas,
mas elas corriam e corriam, embrenhando-se nos matos,
ficando cada vez mais distantes, mais inalcançáveis.
Conta-se delas que acabaram por ser transformadas em rios.
E de fato, onde se juntam o rio Oxum e o rio Oba,
a correnteza é uma feroz tormenta
de águas que disputam o mesmo leito.


Fonte: Mitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi - Cia. das Letras

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Lendas dos Orixás: Oiá - Iansã


OIÁ RECEBE O NOME DE IANSÃ, MÃE DOS NOVE FILHOS
Oiá desejava ter filhos,
mas não podia conceber.
Oiá foi consultar um babalaô
e ele mandou que ela fizesse um ebó.
Ela deveria oferecer um carneiro, um agutã(*),
muitos búzios e muitas roupas coloridas.
Oiá fez o sacrifício e teve nove filhos.
Quando ela passava, indo em direção ao mercado, o povo dizia:
"Lá vai Iansã.
Lá ia Iansã, que quer dizer mãe nove vezes.
E lá ia ela orgulhosa ao mercado vender azeite de dendê.
Oiá não podia ter filhos,
mas teve nove,
depois de sacrificar um carneiro.
Em sinal de respeito,
por ter seu pedido atendido,
Iansã, a mãe dos nove filhos, nunca mais comeu carneiro.


(*) agutã = carneiro, ovelha



OÍA GANHA DE OBALUAÊ O REINO DOS MORTOS
Iansã (imagem descolorida por mim)
Imagem original por Davi Nascimento

Certa vez houve uma festa com todas as divindades presentes.
Omulu-Obaluaê chegou vestindo seu capucho de palha. 
Ninguém o podia reconhecer sob o disfarce
e nenhuma mulher quis dançar com ele.
Só Oiá, corajosa, atirou-se na dança com o Senhor da Terra. 
Tanto girava Oiá na sua dança que provocava vento.
E o vento de Oiá levantou as palhas e descobriu o corpo de Obaluaê. 
Para surpresa geral, era um belo homem. 
O povo o aclamou por sua beleza.
Obaluaê ficou mais do que contente com a festa, ficou grato. 
E, em recompensa, dividiu com ela o seu reino. 
Fez de Oiá a rainha dos espíritos dos mortos,
Rainha que é Oiá Igbalé, a condutora dos eguns(*)
Oiá então dançou e dançou de alegria.
Para mostrar a todos seu poder sobre os mortos,
quando ela dança agora, agita no ar o iruquerê(**)
o espanta-mosca com que afasta os eguns para o outro mundo. 
Rainha Oiá Igbalé, a condutora dos espíritos. 
Rainha que foi sempre a grande paixão de Omulu.


(*) egum = antepassado, espírito de morto, o mesmo que egungum;
alguns orixás são eguns divinizados.
(**)iruquerê = espanta - mosca usado por Oiá e Oxóssi


Fonte: Mitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi - Cia. das Letras

domingo, 14 de abril de 2013

Lendas dos Orixás: Xangô

XANGÔ É SALVO POR OIÁ DA PERSEGUIÇÃO DOS EGUNS


Xangô tinha pavor da morte.
Xangô tinha horror dos mortos.
Xangô temia os eguns(*) mais que qualquer coisa.
Certa vez Xangô viu-se perseguidos pelo eguns.
Sua mulher Oiá foi em seu socorro. 
Ela conhecia um meio de acabar com aquela situação. 
Deu a Xangô nove espelhos 
onde ele faria os eguns verem refletidas suas próprias imagens. 
Sabia Oiá que a morte
não suporta ver-se frente a frente,
tal sua feiúra. 
Quando os eguns acercaram-se de Xangô,
Xangô os recebeu com seus espelhos. 
Os eguns se viram e se apavoraram.
A visão era horrível. 
Os eguns saíram em disparada.
Xangô os perseguiu sem trégua. 
Foram vencidos por Xangô com a ajuda de Oiá.

(*) egum = antepassado, espírito de morto, o mesmo que egungum; 
alguns orixás são eguns divinizados.



Fonte: Mitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi - Cia. das Letras

sábado, 13 de abril de 2013

Lendas dos Orixás: Euá

EUÁ É ESCONDIDA POR SEU IRMÃO OXUMARÉ
Ewá by Carybé

Filha de Nanã também é Euá.
Euá é o horizonte, o encontro do céu com a terra.
É o encontro do céu com o mar.
Euá era bela e iluminada,
mas era solitária e tão calada.
Nanã, preocupada com sua filha,
pediu a Orunmilá que lhe arranjasse um amor,
que arranjasse um casamento para Euá.
Mas Euá desejava viver só,
dedicada à sua tarefa de fazer cair a noite no horizonte,
matando o sol com a magia que guarda na cabaça adô. (*)
Nanã, porém, insistia em casar a filha.
Euá pediu então ajuda a seu irmão Oxumarê.
O Arco-Íris escondeu Euá
no lugar onde termina o arco de seu corpo.
Escondeu Euá por trás do horizonte
e Nanã nunca mais pôde alcançá-la.
Assim os dois irmãos passaram a viver juntos,
para sempre inatingíveis no horizonte,
lá onde o céu encontra a terra.
Onde ela faz nascer a noite com seu adô.

(*) adô = pequena cabaça para carregar pólvora, embornal dos orixás caçadores.
Também nome da cabaça com búzios que Euá leva na mão quando dança e que em alguns candomblés é chamada aracolê.

Fonte: Mitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi - Cia. das Letras

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Lendas dos Orixás: Oxumarê

OXUMARÊ DESENHA O ARCO-ÍRIS NO CÉU PARA ESTANCAR A CHUVA 


Conta-se que Oxumarê não tinha simpatia pela Chuva.
Toda vez que ela reunia suas nuvens
e molhava a terra por muito tempo,
Oxumarê apontava para o céu ameaçadoramente 
com sua faca de bronze
e fazia com que a Chuva desaparecesse, dando lugar ao arco-iris. 
Um dia Olodumare contraiu uma moléstia que o cegou. 
Chamou Oxumarê, que da cegueira o curou. 
Olodumare temia, entretanto, perder de novo a visão
e não permitiu que Oxumarê voltasse à Terra para morar. 
Para ter Oxumarê por perto, determinou que morasse com ele, 
e que só de vez em quando viesse à Terra em visita, mas só em visita. 
Enquanto Oxumarê não vem a Terra, 
todos podem vê-lo no céu com sua faca de bronze,
sempre se fazendo no arco-iris para estancar a Chuva.




OXUMARÊ TRANSFORMA-SE EM COBRA PARA ESCAPAR DE XANGÔ 


Oxumarê era um rapaz muito bonito e invejado. 
Suas roupas tinhas todas as cores do arco-íris e suas jóias de ouro e bronze faiscavam de longe. 
Todos queriam aproximar-se de Oxumarê, mulheres e homens, todos queriam seduzi-lo e com ele se casar. 
Mas Oxumarê era também muito contido e solitário. 
Preferia andar sozinho pela abóbada celeste, onde todos costumavam vê-lo em dia de chuva. 
Certa vez Xangô viu Oxumarê passar, com todas as cores de seu traje e todo brilho de seus metais. 
Xangô conhecia a fama de Oxumarê de não deixar ninguém dele se aproximar. 
Preparou então uma armadilha para capturar o Arco-Íris. 
Mandou chamá-lo para uma audiência em seu palácio e, quando Oxumarê entrou na sala do trono, os soldados de Xangô fecharam as portas e janelas, aprisionando Oxumarê junto com Xangô. 
Oxumarê ficou desesperado e tentou fugir, mas todas as saídas estavam trancadas pelo lado de fora. 
Xangô tentava tomar Oxumarê nos braços e Oxumarê escapava, correndo de um canto para outro. 
Não vendo como se livrar, Oxumarê pediu ajuda a Olorum e Olorum ouviu sua súplica. 
No momento em que Xangô imobilizava Oxumarê, Oxumarê foi transformado numa cobra, que Xangô largou com nojo e medo. 
A cobra deslizou pelo chão em movimentos rápidos e sinuosos. 
Havia uma pequena fresta entre a porta e o chão da sala e foi por ali que escapou Oxumarê. 
Assim livrou-se Oxumarê do assédio de Xangô. 
Quando Oxumarê e Xangô foram feitos orixás, Oxumarê foi encarregado de levar água da Terra para o palácio de Xangô no Orum, mas Xangô não pode nunca aproximar-se de Oxumarê.

Fonte: Mitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi - Cia.das Letras

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Lendas dos Orixás: Obaluaê - Omulu - Xapanã - Sapatá


OMULU CURA TODOS DA PESTE E É CHAMADO OBALUAÊ
Omulu por Caybé

Quando Omulu era um menino de uns doze anos,
saiu de casa e foi para o mundo fazer a vida.
De cidade em cidade, de vila em vila,
ele ia oferecendo seus serviços,
procurando emprego.
Mas Omulu não conseguia nada.
Ninguém lhe dava o que fazer, ninguém o empregava.
E ele teve que pedir esmola,
mas ao menino ninguém dava nada,
nem do que comer, nem do que beber.
Tinha um cachorro que o acompanhava e só.
Omulu e seu cachorro retiraram-se no mato
e foram viver com as cobras.
Omulu comia o que a mata dava:
frutas, folhas, raízes.
Mas os espinhos da floresta feriam o menino.
As picadas de mosquito cobriam-lhe o corpo.
Omulu ficou coberto de chagas.
Só o cachorro confortava Omulu,
lambendo-lhe as feridas.
Um dia, quando dormia, Omulu escutou uma voz:
"Estás pronto. Levanta e vai cuidar do povo".
Omulu viu que todas as feridas estavam cicatrizadas.
Não tinha dores nem febre.
Obaluaê juntou as cabacinhas, os atós(*),
onde guardava água e remédios
que aprendera a usar com a floresta,
agradeceu a Olorum e partiu.

Naquele tempo uma peste infestava a Terra.
Por todo lado estava morrendo gente.
Todas as aldeias enterravam os seus mortos.
Os pais de Omulu foram ao babalaô
e ele disse que Omulu estava vivo
e que ele traria a cura para a peste.
Todo lugar aonde chegava, a fama precedia Omulu.
Todos esperavam-no com festa, pois ele curava.
Os que antes lhe negaram até mesmo água de beber
agora imploravam por sua cura.
Ele curava todos, afastava a peste.
Então dizia que se protegessem,
levando na mão uma folha de dracena, o peregum,
e pintando a cabeça com efum, ossum e uági(**),
os pós branco, vermelho e azul usados nos rituais e encantamentos.
Curava os doentes e com o xaxará varria a peste para fora da casa,
para que a praga não pegasse outras pessoas da família.
Limpava casas e aldeias com a mágica vassoura de fibras de coqueiro,
seu instrumento de cura, seu símbolo, seu cetro, o xaxará.

Quando chegou em casa, Omulu curou os pais
e todos estavam felizes.
Todos cantavam e louvavam o curandeiro
e todos o chamaram de Obaluaê,
todos davam vivas ao Senhor da Terra, Obaluaê.

(*) ató= pequena cabaça usada para guardar remédios, símbolo de Ossaim e Omulu, orixás ligados à cura.
(**)ossum e uági = pó vermelho e azul respectivamente

Fonte: Mitologia dos Oixás - Reginaldo Prandi - Cia. das Letras

terça-feira, 9 de abril de 2013

Lendas dos Orixás: Nanã

NANÃ FORNECE A LAMA PARA A MODELAGEM DO HOMEM
Nanã Buruquê
Dizem que quando Olorum encarregou Oxalá 
de fazer o mundo e modelar o ser humano, 
o orixá tentou vários caminhos. 
Tentou fazer o homem de ar, como ele. 
Não deu certo, pois o homem logo se desvaneceu.
Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura.
De pedra ainda a tentativa foi pior.
Fez de fogo e o homem se consumiu.
Tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada.
Foi então que Nanã Burucu veio em seu socorro. 
Apontou para o fundo do lago com seu ibiri (*), seu cetro e arma, 
e de lá retirou uma porção de lama. 
Nanã deu a porção de lama a Oxalá, 
o barro do fundo da lagoa onde morava ela,
a lama sob as águas, que é Nanã.
Oxalá criou o homem, o modelou no barro. 
Com o sopro de Olorum ele caminhou. 
Com ajuda dos orixás povoou a Terra. 
Mas tem um dia que o homem morre 
e seu corpo tem que retornar à terra, 
voltar à natureza de Nanã Burucu.
Nanã deu a matéria no começo
mas quer de volta no final tudo o que é seu.
(*) ibiri: cetro ritual de Nanã em forma de jota


NANÃ ESCONDE O FILHO FEIO E EXIBE O FILHO BELO

Conta-se que Nanã teve dois filhos.
Oxumarê era o filho belo e Omulu, o filho feio.
Nanã tinha pena do filho feio
e cobriu Omulu com palhas, para que ninguém o visse
e para que ninguém zombasse dele.
Mas Oxumarê era belo,
tinha a beleza do homem 
e tinha a beleza da mulher.
Tinha a beleza de todas as cores.
Nanã o levantou bem alto no céu
para que todos admirassem sua beleza.
Pregou o filho no céu com todas as suas cores
e o deixou lá para encantar a Terra para sempre.
E lá ficou Oxumarê, à vista de todos.
Pode ser admirado em seu esplendor de cores,
sempre que a chuva traz o arco-íris.


Fonte: Mitologia dos Orixás - Reginald Prandi - Companhia das Letras

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Lendas dos Orixás: Iroco e Ocô

IROCO AJUDA A FEITICEIRA A VINGAR O FILHO MORTO
Irôko by Gil Abelha
Iroco era um homem bonito e forte e tinha duas irmãs. Uma delas era Ajé, a feiticeira, a outra era Ogboí, que era uma mulher comum. 
Ajé era feiticeira, Ogboí, não. 
Iroco e suas duas irmãs vieram juntos do Orum para habitar no Aiê.
Iroco foi morar numa frondosa árvore e suas irmãs, em casas comuns. 
Ogboí teve dez filhos e Ajé teve só um, um passarinho. 
Um dia, quando Ogboí teve que se ausentar, deixou os dez filhos sob a guarda de Ajé. 
Ela cuidou bem das crianças até a volta da irmã. 
Mais tarde, quando Ajé teve também que viajar, deixou o filho-pássaro com Ogboí. 
Foi então que os filhos de Ogboí pediram ā mãe que queriam comer um passarinho. 
Ela lhes ofereceu uma galinha, mas eles, de olhos no primo, recusaram. 
Gritavam de fome, queriam comer, mas tinha que ser um pássaro.
A mãe foi então foi à floresta caçar passarinhos, que seus filhos insistiam em comer. 
Na ausência da mãe, os filhos de Ogboí mataram, cozinharam e comeram o filho de Ajé. Quando Ajé voltou e se deu conta da tragédia, partiu desesperada ā procura de Iroco. 
Iroco a recebeu em sua árvore, onde mora até hoje.
E de lá, Iroco vingou Ajé, lançando golpes sobre os filhos de Ogboí. 
Desesperada com a perda de metade de seus filhos e para evitar a morte dos demais, Ogboí ofereceu sacrifícios para o irmão Iroco. 
Iroco aceitou o sacrifício e poupou os demais filhos.
Ogboí é a mãe de todas as mulheres comuns, mulheres que não são feiticeiras, mulheres que sempre perdem filhos para aplacar a cólera de Ajé e de suas filhas feiticeiras.
Iroco mora na gameleira branca e trata de oferecer a sua justiça na disputa entre as feiticeiras e as mulheres comuns.


ORIXÁ OCÔ CRIA A AGRICULTURA COM A AJUDA DE OGUM
http://pimanrouj.blogs.nouvelobs.com/

No princípio, havia um homem que se chamava Ocô.
Mas Ocô não fazia nada o dia todo, não havia o que fazer, simplesmente.
Quando os alimentos na Terra escassearam, Olorum encarregou Ocô de fazer plantações. Que plantassem inhame, pimenta, feijão e tudo mais que os homens comem.
Ocô gostou de sua missão, ficou todo orgulhoso, mas não tinha a menor idéia de como executá-la.
Até que viu, debaixo de uma palmeira, um rapaz que brincava na terra.
Com um graveto ele revolvia a terra e cavava mais fundo.
Ocô quis saber o que fazia o rapaz.
“Preparando a terra para plantar, para plantar as sementes que darão as plantas”, explicou o rapaz de pele reluzente.
“Que sementes, se nem plantas ainda há?”, perguntou, incrédulo, Ocô.
“Nada é impossível para Olodumaré”, foi a resposta.
Começaram então a cavar juntos a terra.
O graveto que usavam como ferramenta quebrou-se e passaram então a usar lascas de pedra.
O trabalho, entretanto, não rendia e Ocô saiu a procura de alguma maneira mais prática.
Outro dia, quando Ocô voltou sem solução, o rapaz tinha feito fogo, protegendo-o com lascas de pedra.
Viram então que a pedra se derretia no fogo.
A pedra líquida escorria em filetes que se solidificavam.
“Que ótimo instrumento para cavar!”, descobriu efusivamente o inventivo rapaz.
Ele pôde então usar o fogo e fazer lâminas daquela pedra, e modelar objetos cortantes e ferramentas pontiagudas.
Ele fez a enxada, a foice e fez a faca e a espada e tudo o mais que desde então o homem faz de ferro para transformar a natureza e sobreviver.
O rapaz era Ogum, o orixá do ferro.
Juntos resolveram a terra e plantaram e os alimentos foram abundantes.
E a humanidade aprendeu a plantar com eles, cada família fez a sua plantação, sua fazenda, e na Terra não mais se padeceu de fome, e Ocô foi festejando como Orixá Ocô, o Orixá-da-Fazenda, da plantação, pois fazenda é o significado do nome Ocô.
E Ogum e Orixá Ocô foram homenageados e receberam sacrifícios como os patronos da agricultura, pois eles ensinaram o homem a plantar e assim superar a escassez de alimentos e derrotar a fome.

Fonte: Mitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi - Companhia das Letras

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Surpresa no caminho I

Hoje quando voltei à pé da padaria, tive uma grata surpresa...
Do lado de fora do portão de uma casa, havia um belíssimo gato preto, semelhante à este da foto.
Talvez a única diferença entre eles seja que, este que vi usava uma coleira amarela em torno do pescoço, o que lhe deu todo charme. 
Logo fui me abaixando e pedindo licença para passar minhas mãos naquele veludo negro de olhos verdes. 
Ele (ou ela), me correspondeu com um roçar pelas pernas e um doce miado. 
Se eu tivesse como, teria fotografado esse momento esplêndido!
Agradeci a ele (ou ela) por aceitar tão gentilmente este contato e pedi a São Francisco que o protegesse dos ignorantes chamados "seres humanos".
Doce criatura ='.'=
 
Esta história tem mais capítulos:
Surpresa no caminho II
Surpresa no caminho III

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Lendas dos Orixás: Erinlé, Logun-Edé, Otim, Ossaim

ERINLÉ TEM A LÍNGUA CORTADA POR IEMANJÁ
Inlè-Ibualama ou Erinlè - escultura de Carybé
Erinlé era o mais belo dos caçadores.
Diziam que era andrógino,mas disso não se tem certeza.
O que se sabe é que Inlé era dono de uma beleza diferente e irresistível.
Tão belo que Iemanjá o amou assim que o viu.
Apaixonada, o raptou e o levou para o fundo do mar.
Satisfeitos os seus desejos, Iemanjá se cansou de Erinlé.
Então Iemanjá o devolveu ao mundo.
Mas Erinlé tinha vistos os mistérios do mar e passara a conhecer os seus enigmas.
Para que Erinlé não contasse os seus segredos, Iemanjá cortou sua língua.
A partir de então é Iemanjá que responde por Erinlé.
Erinlé fala por intermédio de Iemanjá.
Erinlé é o mais belo dos caçadores.



LOGUM EDÉ NASCE DE OXUM E ERINLÉ
Logunedé - escultura de Carybé

Um dia Oxum Ipondá conheceu o caçador Erinlé e por ele se apaixonou perdidamente.
Mas Erinlé não quis saber de Oxum.
Oxum não desistiu e procurou um babalaô.
Ele disse que Erinlé só se sentia atraído pelas mulheres da floresta, nunca pelas do rio.
Oxum pagou ao babalaô e arquitetou um plano: embebeu seu corpo em mel e rolou pelo chão da mata.
Agora sim, disfarçada de mulher da mata, procurou de novo o seu amor.
Erinlé se apaixonou por ela no momento em que a viu.
Um dia, esquecendo-se das palavras do adivinho, Ipondá convidou Erinlé para um banho no rio.
Mas as águas lavaram o mel de seu corpo e as folhas do disfarce se desprenderam.
Erinlé percebeu imediatamente como tinha sido enganado e abandonou Oxum para sempre.
Foi-se embora sem olhar para trás.
Oxum estava grávida; deu à luz Logum Edé.
Logum Edé é a metade Oxum, a metade do rio, e é metade Erinlé, a metade mato.
Suas metades nunca podem se encontrar e ele habita num tempo o rio e no outro tempo habita o mato.
Com o ofá, arco e flecha que herdou do pai, ele caça.
No abebé, espelho que recebeu da mãe, ele se mira

OTIM ESCONDE QUE NASCEU COM QUATRO SEIOS
Otin - escultura de Carybé
Oquê, rei da cidade de Otã, tinha uma filha. Ela nascera com quatro seios e era chamada de Otim.
O rei Oquê adorava sua filha e não permitia que ninguém soubesse de sua deformação.
Este era o segredo de Oquê.
Este era o segredo de Otim.
Quando Otim cresceu, o rei aconselho-a a nunca se casar.
Pois um marido, por mais que a amasse, um dia se aborreceria com ela e revelaria ao mundo seu vergonhoso segredo.
Otim ficou muito triste, mas acatou o conselho do pai.
Por muitos anos, Otim viveu em Igbajô, uma cidade vizinha, onde trabalhava no mercado.
Um dia, um caçador chegou ao mercado, e ficou tão impressionado com a beleza de Otim, que insistiu em casar-se com ela.
Otim recusou seu pedido por diversas vezes, mas, diante da insistência do caçador, concordou, impondo uma condição: o caçador nunca deveria mencionar seus quatro seios a ninguém.
O caçador concordou, e impôs também sua condição: Otim jamais deveria por mel de abelhas na comida dele, porque isso era seu tabu, seu euó.(*)

Por muitos anos, Otim viveu feliz com o marido.
Mas como era a esposa favorita, as outras esposas sentiram-se muito enciumadas.
Um dia, reuniram-se e tramaram contra Otim.
Era o dia de Otim cozinhar para o marido; ela preparava um prato de milho amarelo cozido, enfeitado com fatias de coco, o predileto do caçador.
Quando Otim deixou a cozinha por alguns instantes, as outras sorrateiramente puseram mel na comida.

Quando o caçador chegou em casa e sentou-se para comer, percebeu imediatamente o sabor do ingrediente proibido.
Furioso, bateu em Otim e lhe disse as coisas mais cruéis, revelando seu segredo: "Tu, com teus quatro seios, sua filha de uma vaca!, como ousaste a quebrar meu tabu?"
A novidade espalhou-se pela cidade como fogo. Otim, a mulher de quatro seios, era ridicularizada por todos.Otim, fugiu de casa e deixou a cidade do marido
Voltou para sua cidade, Otã, e refugiou-se no palácio do pai.
O velho rei a confortou, mas ele sabia que a noticia chegaria também a sua cidade.Em desespero, Otim fugiu para a floresta.
Ao correr, tropeçou e caiu. Nesse momento, Otim transformou-se num rio, e o rio correu para o mar.
Seu pai, que a seguia, viu que havia perdido a filha.
Lá ia o rio fugindo para o mar.
Querendo impedir o Rio de continuar sua fuga, desesperado, atirou-se ao chão, e, ali onde caiu, transformou-se em uma montanha, impedindo o caminho do rio Otim para o mar.
Mas Otim contornou a montanha e seguiu seu curso.
Oquê, a montanha, e Otim, o rio, são cultuados até hoje em Otã.
Odé, o caçador, nunca se esqueceu de sua mulher.

(*)euó = interdição religiosa, tabu, quizila

OSSAIM DÁ UMA FOLHA PARA CADA ORIXÁ
Osanyin - escultura de Carybé
Ossaim, filho de Nanã e irmão de Oxumaré, Eua e Obaluaê, era o senhor das folhas, da ciência e das ervas, o orixá que conhece o segredo da cura e o mistério da vida.
Todos os orixás recorriam a Ossaim para curar qualquer moléstia, qualquer mal do corpo.
Todos dependiam de Ossaim na luta contra a doença.
Todos iam à casa de Ossaim oferecer seus sacrifícios.
Em troca Ossaim lhes dava preparados mágicos: banhos, chás, infusões, pomadas, abô(*), beberagens.
Curava as dores, as feridas, os sangramentos; as disenterias, os inchaços e fraturas; curava as pestes, febres, órgãos corrompidos; limpava a pele purulenta e o sangue pisado; livrava o corpo de todos os males.
Um dia Xangô, que era o deus da justiça, julgou que todos os orixás deveriam compartilhar o poder de Ossaim, conhecendo o segredo das ervas e o dom da cura.
Xangô sentenciou que Ossaim dividisse suas folhas com os outros orixás.
Mas Ossaim negou-se a dividir suas folhas com os outros orixás.
Xangô então ordenou que Iansã soltasse o vento e trouxesse ao seu palácio todas as folhas das matas de Ossaim para que fossem distribuídas aos orixás.
Iansã fez o que Xangô determinara.
Gerou um furacão que derrubou as folhas das plantas e as arrastou pelo ar em direção ao palácio de Xangô.
Ossaim percebeu o que estava acontecendo e gritou:

“Euê uassá!” 
"As folhas funcionam!”

Ossaim ordenou às folhas que voltassem às suas matas e as folhas obedeceram às ordens de Ossaim.
Quase todas as folhas retornaram para Ossaim.
As que já estavam em poder de Xangô perderam o axé, perderam o poder de cura.

O orixá-rei. Que era um orixá justo, admitiu a vitória de Ossaim.
Entendeu que o poder das folhas deveria ser exclusivo de Ossaim e que assim devia permanecer através dos séculos.
Ossaim, contudo, deu uma folha para cada orixá, deu uma euê(**) para cada um deles.
Cada folha com seus axés(***) e seus ofós(****), que são cantigas de encantamento, sem as quais as folhas não funcionam.
Ossaim distribuiu as folhas aos orixás para que eles não mais o invejassem.
Eles também podiam realizar proezas com as ervas, mas os segredos mais profundos ele guardou para si.
Ossaim não conta seus segredos par ninguém, Ossaim nem mesmo fala.
Fala por ele seu criado Aroni.
Os orixás ficaram gratos a Ossaim e sempre o reverenciam quando usam as folhas.

(*) abô= infusão de água com folhas maceradas e outras substâncias.
(**)euê = folha.
(***) axés =  força mistica dos orixás, força vital que transforma o mundo.
(****) ofós = cantigas de encantamentos.


Fonte: Mitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi - Companhia das Letras

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Lendas dos Orixás: Oxóssi


OXÓSSI É FEITO REI DE QUETO POR OXUM

Oxóssi by Carybé

Oxóssi ia para uma caçada buscar comida para sua gente quando avistou Oxum nas águas doces.
Encantou-se imediatamente com sua beleza, com seu deslumbramento nas águas cintilantes.
Oxóssi entrou no rio para alcançar o orixá e lá ficou de amores com Oxum, esquecendo-se da fome de sua tribo.
Seus companheiros sentiam-se traídos e começaram a atirar flechas em Oxóssi.
Oxum, que já estava enamorada de Oxóssi, começou a cantar uma cantiga de encantamento para defendê-lo das mortíferas flechadas:
“A ti re okê.
A ti re nu balé ba re iô”.
Dos perseguidores tiveram que fugir.
Oxum guiou Oxóssi na fuga.
Encontraram guarida na cidade de Queto, onde Oxum deu a Oxóssi o posto de rei, o Alaqueto.
Assim, Oxóssi, o caçador, também foi o rei do Queto.


Fonte: Mitologia dos Orixás - Reginald Prandi - Companhia das Letras

terça-feira, 2 de abril de 2013

Lendas dos Orixás: Ogum


OGUM ENSINA AOS HOMENS AS ARTES DA AGRICULTURA
Ogum por Carybé
Ogum andava aborrecido no Orum(*), queria voltarão Aiê(**) e ensinar aos homens tudo aquilo que aprendera. Mas ele desejava ser ainda mais forte e poderoso, para ser por todos admirado por sua autoridade. Foi consultar Ifá, que lhe recomendou um ebó para abrir os caminhos. Ogum providenciou tudo antes de descer à Terra.
Veio ao Aiê e aqui fez o pretendido. Em pouco tempo foi reconhecido por seus feitos.
Cultivou a terra e plantou, fazendo com que dela o milho e o inhame brotassem em abundância. Ogum ensinou aos homens a produção do alimento, dando-lhes o segredo da colheita, tornando-se assim o patrono da agricultura.
Ensinou a caçar e a forjar o ferro. Por isso tudo, foi aclamado rei de Irê, o Onirê. 
Ogum é aquele a quem pertence tudo de criativo no mundo, aquele que tem uma casa onde todos podem entrar.

(*) Orum: Céu, mundo sobrenatural, mundo dos orixás; cada um dos 9 mundos paralelos da concepção iorubá.
(**) Aiê: Terra, mundo dos homens.

Fonte: Mitologia dos Orixás - Reginald Prandi - Companhia das Letras

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Lendas dos Orixás: Exu

fonte:ufanisi.blogspot.
Depois de "namorar" por muito tempo o livro "Mitologia dos Orixás", acabei comprando-o semana passada.
Estou saboreando aos poucos e aprendendo um pouco mais sobre este fascinante tema: Os Orixás.
Certa vez vi um documentário na Tv Cultura, com Reginaldo Prandi, autor deste e de outros livros sobre orixás e candomblé, e logo vi que seu trabalho é sério, procurando trazer à luz do grande público através de suas pesquisas e estudos, informações valiosas sobre os orixás e o povo de santo, e desde então tive vontade de ler algum livro de sua autoria.
Comprei este primeiro e acertei em cheio. O livro é muito bom, rico em todos os sentidos.

Bom, respeitando a ordem do xiré, vou partilhar aqui uma lenda de Exu, que segundo consta é sempre o primeiro a ser convocado.
No transcorrer dos dias vou postando uma lenda de cada um dos orixás.
Axé!

EXU TORNA-SE O AMIGO PREDILETO DE ORUNMILÁ
Exu by Carybé

Como se explica a grande amizade entre Orunmilá e Exu, visto que eles são opostos em grandes aspectos ?
Orunmilá, filho mais velho de Olorum, foi quem trouxe aos humanos o conhecimento do destino pelos búzios. Exu, pelo contrario, sempre se esforçou para criar mal-entendidos e rupturas, tanto aos humanos como aos Orixás. Orunmilá era calmo e Exu, quente como o fogo.
Mediante o uso de conchas adivinhas, Orunmilá revelava aos homens as intenções do supremo deus Olorum e os significados do destino. Orunmilá aplainava os caminhos para os humanos, enquanto Exu os emboscava na estrada e fazia incertas todas as coisas. O caráter de Orunmilá era o destino, o de Exu, era o acidente. Mesmo assim ficaram amigos íntimos.
Uma vez, Orunmilá viajou com alguns acompanhantes. Os homens de seu séquito não levavam nada, mas Orunmilá portava uma sacola na qual guardava o tabuleiro e os obis que usava para ler o futuro.
Mas na comitiva de Orunmilá muitos tinham inveja dele e desejavam apoderar-se de sua sacola de adivinhação. Um deles mostrando-se muito gentil, ofereceu-se para carregar a sacola de Orunmilá. Um outro também se dispôs à mesma tarefa e eles discutiram sobre quem deveria carregar a tal sacola.
Até que Orunmilá encerrou o assunto dizendo: "Eu não estou cansado. Eu mesmo carrego a sacola".
Quando Orunmilá chegou em casa, refletiu sobre o incidente e quis saber quem realmente agira como um amigo de fato. Pensou então num plano para descobrir os falsos amigos. Enviou mensagens com a notícia de que havia morrido e escondeu-se atrás da casa, onde não podia ser visto. E lá Orunmilá esperou.
Depois de um tempo, um de seus acompanhantes veio expressar seu pesar. O homem lamentou o acontecido, dizendo ter sido um grande amigo de Orunmilá e que muitas vezes o ajudara com dinheiro. Disse ainda que, por gratidão, Orunmilá lhe teria deixado seus instrumentos de adivinhar.
A esposa de Orunmilá pareceu compreende-lo, mas disse que a sacola havia desaparecido. E o homem foi embora frustrado.
Outro homem veio chorando, com artimanha pediu a mesma coisa e também foi embora desapontado. E assim, todos os que vieram fizeram o mesmo pedido. Até que Exu chegou.
Exu também lamentou profundamente a morte do suposto amigo. Mas disse que a tristeza maior seria da esposa, que não teria mais pra quem cozinhar. Ela concordou e perguntou se Orunmila não lhe devia nada. Exu disse que não. A esposa de Orunmilá persistiu, perguntando se Exu não queria a parafernália de adivinhação.
Exu negou outra vez. Aí Orunmilá entrou na sala, dizendo: "Exu, tu és sim meu verdadeiro amigo!"
Depois disso nunca teve amigos tão íntimos, tão íntimos como Exu e Orunmilá.

Fonte da imagem:http://cpcy.pt/site/e%E1%B9%A3u-exu/

sábado, 30 de março de 2013

Sete selos planetários

Os sete “selos planetários” reproduzem em escrita espiritual (esotérica) o que Rudolf Steiner explicou inúmeras vezes à seus ouvintes como etapas do desenvolvimento planetário da Terra, através dos estados de
Saturno,

 Sol,

 Lua, 

Marte, 

Mercúrio, 

Júpiter,

 Vênus.


Marte representa a primeira metade do desenvolvimento do nosso planeta como Terra. Mercúrio, a segunda metade. Como um estado muito longínquo, Vulcano foi omitido.
O que denominamos hoje “planetas”, astronomicamente, “estrelas errantes” ou “estrelas caminhantes”, são imagens atuais da atuação cósmica hierárquica, passada e futura. Caminham através do zodíaco, da região dos ritmos cósmicos, porém seu profundo segredo, encontra-se na mudança da forma – na transubstanciação de suas imagens arquetípicas do estado de Saturno até Vênus. Rudolf Steiner os configurou em forma de “selos”, que podem ser representados através da metamorfose no sentido de Goethe, onde uma forma nova é resultado da forma anterior.
Aprofundar nas admiráveis direções das linhas e suas transformações, cria no corpo etérico do ser humano, movimentos e formas de pensamento estimuladas por elevadas leis espirituais. Estes movimentos e formas de pensamento são imagens rítmicas de uma música cósmica (música das esferas) que em sua consonância podem formar uma ponte do mundo terrestre para o mundo espiritual, igualmente como os sete sons primordiais ou as sete cores do arco-íris.
Estes selos originalmente foram desenhados sobre fundo azul e são dourados “correspondendo aos fatos ocultos, ao fixarmos estes selos em figuras simbólicas e deixarmos nosso olhar contemplá-los profundamente, isto nos ajuda a querer compreender e, se através da correta sequência, produzimos as formas de pensamento correspondentes, vamos ao encontro do que nos possibilita a íntima compreensão do ritmo dos sete membros do ser humano. Estas figuras não são apenas ornamentos, mas nos impulsionam para estas transformações” (Rudolf Steiner. GA 284, 15 Out 1911).

Fonte do texto:


Veja no link abaixo uma animação dos selos planetários desenvolvida por Bill Camp mostrando o processo de metamorfose de cada um dos selos.

Estes selos foram esculpidos nas colunas do primeiro Goetheanum.

Goetheanum: Sede mundial do movimento antroposófico. Localizado em Dornach, Suíça, o centro inclui dois teatros, espaços para exposições e palestras, biblioteca, livraria e os escritórios da Sociedade Antroposófica. Seu nome é uma homenagem a Johann Wolfgang von Goethe. O Goetheanum original foi projetado por Rudolf Steiner e destruído por um incêndio criminoso em 31 de Dezembro de 1922. Reconstruído inteiramente em concreto, só foi reinaugurado em 1928).

sexta-feira, 29 de março de 2013

Mensagem dos Anciãos Hopi

Licença Alguns direitos reservados por Al HikesAZ
Hopi Water Maiden by Susan Kliewer - Tlaquepaque - Sedona

"Vocês andaram dizendo às pessoas que esta é a Décima Primeira Hora.
Agora vocês precisam voltar e dizer a essas pessoas que a Hora é agora.
E que há coisas a serem consideradas:
Onde vocês estão morando?
O que vocês estão fazendo?
Quais são os seus relacionamentos?
Vocês estão em boas relações?
Onde está a água de vocês?
Conheçam o seu quintal.
É o momento de falarem a sua Verdade.
Formem as suas comunidades.
Sejam bons uns com os outros.
E não procurem fora de vocês pelo líder.
Este poderia ser um tempo muito bom!
Há um rio que agora está correndo muito rápido.
Ele é tão grande e ágil que chegará a assustar alguns.
Esses vão tentar ficar na margem,
e se sentirão como que deixamos de lado, e vão sofrer muito.
Saibam, o rio tem o seu destino.
Os anciãos dizem que precisamos deixar a margem, 
saltar para o meio do rio, 
manter os olhos bem abertos e as cabeças acima da água.
Veja quem está lá dentro com vocês e celebrem.
Neste momento da história, não devemos fazer nada sozinhos, 
no mínimo entre nós mesmos. 
Quando fazemos, nosso crescimento e jornada espiritual tem uma parada.
O tempo do lobo solitário acabou. Reúnam-se!
Abandonem a palavra luta, conflito, da sua atitude e do seu vocabulário.
Tudo o que fizermos agora, precisa ser feito de uma maneira sagrada 
e em celebração.
Nós somos aqueles que estávamos esperando".

Os Anciãos
Oraibi, Arizona
Nação Hopi

(Os Hopi são nativos americanos da região de Sedona no Arizona. Eles têm muita sabedoria e conhecimentos e são muito respeitados pelas suas tradições, profecias e curas).

Fonte:http://www.flordavida.com.br/HTML/hopi.html

sexta-feira, 22 de março de 2013

Os Chakras da Linha de Hara - conhecendo novos centros de energia


http://podcollective.com/portal/chakras
http://podcollective.com/portal/chakras


texto por Hudson publicado em:

O sistema de chakras é conhecido pelo mundo inteiro e todos os espiritualistas conhecem sua teoria básica e os 7 principais centros de energia do duplo etérico, os chakras da linha Kundalini. Mas sobre isso há material abundante na internet. Hoje vamos falar de um complexo de chakras quase desconhecido para o público em geral, são os chakras da Linha de Hara. Transcrevo a seguir, material de Diane Stein, dos livros Equilíbrio Energético Essencial e Cura Psíquica com Guias Espirituais. Quando for usada a primeira pessoa (eu), é a autora que faz as observações. Meus comentários estão entre colchetes [ ].

O corpo emocional tem um conjunto de chakras altamente desenvolvido, que funciona numa vibração de energia mais elevada do que os da Linha de Kundalini. Ele é chamado de Linha de Hara e contém treze chakras dispostos ao longo de uma linha vertical que passa pelo centro do corpo. A energia dos chakras da Linha de Hara se move para baixo, na parte da frente, e para cima, na parte de trás. Embora estejam em outro nível energético, eles situam-se entre os chakras da Linha de Kundalini. Seus dois canais de energia, quando conectados por meio da prática do Ch'i Kung ou da Ioga, formam um círculo chamado de Grande órbita Cósmica, que atravessa o corpo. Na Índia, onde são chamados de Ida e Pingala, esses canais são erroneamente associados à Linha de Kundalini.

Os chakras da Linha de Hara são os seguintes, de cima para baixo.



Em primeiro lugar, o Ponto Transpessoal ou Estrela da Alma que equivale, no corpo emocional, ao chakra Coroa do corpo etérico
Esse ponto, de aparência transparente situado acima do chakra da Coroa e do corpo físico, é uma conexão com a Alma Profunda e com todos os nossos componentes energéticos além dos níveis físico/etérico. Embora a energia que ele contém tenha sido reduzida, é maior do que a do chakra da Coroa - mas menor do que a de muitos sistemas energéticos localizados além dele. A energia do Ponto Transpessoal amplia nossas fronteiras em direção a todo o universo e expande nosso ser até o nível da Alma Profunda e em direção a uma espiritualidade mais profunda do que o chakra da Coroa pode nos oferecer.Alguns agentes de cura atribuem este chakra ao corpo etérico, como uma extensão da Linha de Kundalini, mas ele na verdade está num nível inteiramente diferente.

A seguir, descendo na Linha de Hara, vêm os chakras da Visão, um par de pequenos pontos atrás de cada olho, que têm coloração prateada ou cinza. 
Eles são parte do sistema de visão psíquica, juntamente com o chakra do Terceiro Olho, no corpo etérico, e com os chakras da Luz, no corpo Mental. Além disso, os chakras da Visão também permitem que algumas pessoas usem seus olhos como lasers na cura psíquica. Mesmo que o Terceiro Olho esteja aberto, a recepção de imagens através da visão psíquica requer a abertura e desobstrução desses chakras.

O Chakra Corpo Causal é um chakra de recepção sonora localizado na nuca, no ponto de encontro entre o crânio e o pescoço
Ele faz parte do Complexo da Garganta, e sua cor pode ser de um azul-prateado ou violeta-avermelhado. Sua função é recebera comunicação proveniente de fora do nivél físico e manifestá-la ou traduzí-la em informação que seja útil na Terra. É um chakra importante na atividade de canalização [incorporação mediúnica] e na conversão de informações inconscientes em conscientes, como na psicografia e na cura com guias espirituais. Outros chakras de recepção e comunicação localizados em outros níveis alimentam o chakra do Corpo Causal, embora sempre com níveis reduzidos de energia. Esse centro é todo potencial (o Não-Vazio) e é o receptor das impressões provenientes do ponto transpessoal. Desse lugar a energia espiritual parte para os outros centros, "ligando e sintonizando o impessoal com o pensamento humano". O centro tem de estar ativado e equilibrado para poder levar a cabo a sua função de dar sustentação mental ao propósito de vida da pessoa.

O chakra do corpo emocional que equivale ao chakra do Coração é o chakra do Timo, às vezes chamado de Coração Superior, localizado acima do chakra do Coração da Linha de Kundalini. Sua cor é azul-piscina ou turquesa.
Este centro fornece proteção para o coração e para o sistema imunológico, pois a glândula do timo e a imunidade a doenças são emocionalmente relacionadas. A dor emocional e a compaixão são as emoções principais para este chakra. Em seus níveis mais elevados, o chakra do Timo traz a energia do Cordão de Prata, na parte de trás do Complexo do Coração, para dentro do corpo emocional. Enquanto o chakra de Hara (ver a seguir) é o centro focal da encarnação terrestre, o chakra do Timo é o foco de nossa conexão com o que somos para além da Terra. Os Eus Energéticos, que entram pelo Cordão de Prata, fundem-se com o corpo emocional por meio deste chakra.

O chakra do diafragma está localizado entre o timo e o chakra do Hara, na altura do músculo do diafragma, logo acima do plexo solar. Sua cor é verde-limão. 
Duane Packer e Sanaya Roman, em seus vídeos Awakening Your Light Body, mostram nesse local uma abóbada membranosa de energia que designam pelo som seminal "mumin". A abóbada é um filtro que separa as energias espirituais das materiais, deixando passar apenas as mais sutis. A ativação desse centro provoca a eliminação e a desintoxicação de todos os bloqueios à consecução do propósito de vida da pessoa. É uma limpeza de toda a Linha do Hara.

O chakra do Hara é um centro conhecido desde longa data n Ch'i Kung como tan tien ou Mar de Ch'i, e se localiza cerca de seis centímetros abaixo do umbigo, acima do chakra da barriga do plano da Kundalini. Sua cor é castanho-alaranjado mas, durante a cura, ele pode tornar-se mais escuro, chegando mesmo a aquecer-se e avermelhar-se. 
O centro do equilíbrio físico fica nessa parte do corpo. No Ch'i Kung todo trabalho energético começa e termina nesse centro, que é a fonte da encarnação e o lugar da qual a força vital flui para o resto do corpo. O chakra do Hara liga a vontade de viver com a vivificante energia terrestre que provém do chakra da Terra. Diz Barbara Ann Brennan: "Foi com vontade, e somente com ela, que você tirou um corpo físico do ventro da sua mãe, a terra. É também nesse centro que as agentes de cura vão buscar forças bastantes para regenerar o corpo, contanto que plantem a linha hárica bem fundo no ventre da terra, no seu núcleo em fusão."

O chakra do períneo é de um castanho-avermelhado profundo. Os estudiosos do Reiki II o conhecem como Hui Yin; para as praticantes indianas de meditação e ioga, é o cadeado da raiz; para a acupuntura e o Ch'i Kung é o "portal da vida e da morte". 
Esse ponto energético está localizado (no corpo emocional, bem entendido) entre os orifícios da vagina e do ânus [ela escreve para mulheres, mas o ponto é o mesmo nos homens]. Ele é o portal energético pelo qual o Ki da Terra entra no corpo - subindo pelas pernas, passando pela vagina e sendo em seguida armazenado no chakra do Hara, para ser distribuído. É o lugar onde as intenções e propósitos de vida se ativam e ancoram realidade no plano físico. A posição Hui Yin, na qual a vagina e o ânus se fecham [no caso dos homens, somente este último] a fim de trancar o chakra do períneo, provoca a ativação e a depuração da energia da Linha do Hara em todo o sistema hárico.

Há um par de chakras menores, localizados atrás dos joelhos, são chamados de chakras do movimento. Sua coloração é verde-folha ou bronze. Ele orienta a pessoa nos caminhos da vida.
Um par de centros castanhos nas solas dos pés, chamados de centros de ancoragem, enraízam a Linha do Hara no Ki da Terra e estabelecem o propósito da pessoa nos movimentos da manifestação física.

A linha energética nascida no ponto transpessoal desce verticalmente pelo corpo e penetra na Terra. Barbara Ann Brennan não considera esse terminal como um chakra, mas eu o considero como tal e dei-lhe o nome de chakra da Terra. Katrina Raphaell o chama de Estrela da Terra e o localiza vinte centímetros abaixo dos pés. Sinto, porém, que ele pode localizar ainda mais fundo, até onde a pessoa for capaz de ancorar-se na terra e ligar-se à intenção de estar aqui. Quanto à sua cor, vejo-o de um negro brilhante. É um centro que no Ch'i Kung também é conhecido como Ki da Terra, ou seja, a energia vital que a pessoa abosrve do centro da Terra. Tanto o ponto transpessoal quanto o chakra da terra se situam além do físico, acima e abaixo dele, como pontos de ancoragem da Linha do Hara.
Todos os centros da Linha do Hara são identificados no Ch'i Kung e na acupuntura [omiti as correspondências nessa transcrição].



Além do chakras, a própria Linha do Hara é composta por um fluxo de energia. Um dos canais sobe do chakra do períneo para as costas, passa pelo alto da cabeça e desce pelo rosto até o lábio inferior. Na acupuntura e no Ch'i Kung denomina-se esse canal de "Vaso Governador". O segundo fluxo energético começa no lábio inferior, desce pela frente do corpo e termina no períneo ("Vaso da Concepção"). Canais auxiliares conduzem a energia das pernas e dos braços para esses canais principais. Os dois canais são postos em contato quando se coloca a língua no céu da boca e contrai-se o períneo. A movimentação de energia nesse circuito envolve a circulação do Ki (força vital) através dos canais conectados e dos chakras da Linha do Hara. É o que se chama de Órbita Macrocósmica ou Grande e Pequeno Ciclo Celestial, e é a base da disciplina do Ch'i Kung.

DIREITOS DO AUTOR:
Se for copiar o texto, tal como está aqui (pois fiz adaptações e pequenas modificações), além de citar as fontes originais, mencione este link e forneça acesso direto para essa página.

Mais sobre o Hara:
http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2006/06/hara_e_ki.html

quinta-feira, 21 de março de 2013

Os simbolismos ocultos do ovo

http://animamundi-sciarada.blogspot.com.br/2012/04/omne-vivum-ex-ovo.html
imagem: Ophion

Texto por Mirella Faur

Na cosmologia da Deusa o ovo é um símbolo universal da criação do mundo pela Grande Mãe, manifestada como uma Deusa Pássaro. Os antigos egípcios consideravam o Sol como o ovo dourado posto pela deusa Hathor, na sua manifestação como A Gansa do Nilo. Nos rituais egípcios o próprio universo era visto como o ovo cósmico criado no início dos tempos.
Os mitos gregos associavam diversas deusas com o ovo cósmico, por exemplo Leto, que chocou um ovo misterioso do qual nasceram Apollo, representando o Sol, e Ártemis simbolizando a Lua. O historiador Hesíodo relata como a Mãe da Noite (o vazio ou abismo cósmico, o espaço infinito), que antecedeu à criação e gerou todos os deuses, criou o Ovo do Mundo e de suas metades surgiram o céu e a Terra. Em outra versão, deste ovo (identificado com a Lua) surgiu Eros (o amor), que colocou o universo em movimento e contribuiu para a proliferação da vida.
Para os hindus o ovo cósmico é posto por um enorme pássaro dourado, enquanto no mito de criação finlandês, a deusa Ilmatar, a Criadora que flutuava sobre as águas primordiais, abrigou sobre seu ventre um ovo posto por um grande pássaro e que, ao quebrar, formou o céu e a Terra.
Os ovos são símbolos da Lua, da Terra, da criação, do nascimento e da renovação. A iniciação nos Mistérios Femininos é vista como um renascimento, análogo ao ato de sair da casca. O círculo, a elipse, o ovo, o ventre grávido são símbolos da plenitude misteriosa da gestação e da criação. O centro de um círculo é um espaço protegido e seguro, semelhante à escuridão do ventre e do ovo.
Inúmeras estatuetas representam as deusas neolíticas associadas com a Lua ou o ovo. No folclore de vários povos europeus existem crenças ligadas ao ovo, considerados símbolos de fertilidade, humana ou animal. Até o século 17 na França, a noiva devia quebrar um ovo na soleira da sua casa para assegurar sua fecundidade. Os antigos eslavos e alemães untavam seus arados antes da Páscoa com uma mistura de ovos, farinha, vinho e pão, para atrair assim abundância para as colheitas. Na Inglaterra antiga, crianças percorriam as casas no Domingo de Ramos pedindo ovos; recusar este pedido era um mau presságio para os moradores.
Usavam-se ovos também nas oferendas para os mortos, colocados juntos deles no caixão ou sobre os túmulos. Os judeus da Galícia consumiam ovos cozidos ao retornarem dos enterros pra retirar as energias negativas. Na Noite de Walpurgis (30 de abril), nas montanhas Harz da Alemanha, consideradas local de reunião das bruxas, os casais enfeitados com guirlandas de flores dançavam ao redor de árvores decoradas com folhagens, fitas e ovos tingidos de vermelho e amarelo.
Na Romênia, Rússia e Grécia ovos cozidos ou esvaziados do seu conteúdo são até hoje decorados com motivos tradicionais, dados de presente ou usados em competições no domingo da Páscoa. Ganhava aquele que conseguia quebrar os ovos dos concorrentes batendo de leve neles, mas sem rachar o seu. Os romanos destruíam as cascas dos ovos que eles tinham comido para evitar que fossem feitos feitiços com eles.
A presença de ovos nos sonhos deu margem a variadas interpretações, os que apareciam inteiros prenunciavam boa sorte, casamento, gravidez ou herança; se fossem quebrados anunciavam brigas, perdas e separações. A divinação com ovos – chamada de ovomancía - era praticada pelas mulheres européias nos Sabbats Samhain, Yule ou Litha, deixando cair em um copo com água a clara e fazendo vaticínios pelas formas criadas.
Resquícios do mito da deusa celta Ostara, padroeira da fertilidade e renovação da Natureza celebrada no Equinócio da primavera, permaneceram nas crenças populares e persistem até os dias de hoje, apesar das pessoas desconhecerem sua origem. Os símbolos de Ostara eram o ovo e a lebre, sem relação entre si, mas ambos significadores de criação e proliferação. Com o passar do tempo, surgiram os contos do Coelho da Páscoa e a sua inexplicável associação para os leigos com a festa cristã e os ovos de chocolate.

Fonte da imagem:
http://animamundi-sciarada.blogspot.com.br/2012/04/omne-vivum-ex-ovo.html
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