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terça-feira, 1 de abril de 2014

Bordadeiras de Minas

Rendas e bordados são boa fonte de renda para mulheres no interior de Minas
Em mais de 80% dos municípios do estado há bordadeiras que dão vida à atividade

A renda turca de bicos está entre as especialidades das artesãs,
que trabalham duro para atender a demanda


por Marta Vieira

Com todos os tropeços recentes da economia globalizada, as mulheres rendeiras e bordadeiras de Minas Gerais e do Brasil, que se firmaram na arte introduzida no país pelos portugueses e inspiraram a cultura e a música, podem dar boas aulas de educação financeira. A atividade, tão antiga e ainda repassada de mãe para filha, garante emprego e renda em centenas de municípios, resistindo à ameaça de morrer pelas mãos das gerações mais jovens, que não desgrudam da internet. A tradição, o amor pelo traçado de agulhas e linhas e a independência financeira conquistada tornaram conhecidos em todo o país grupos de profissionais da renda e do bordado das cidades de Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte; Barra Longa, na Zona da Mata mineira, e Barroso, na Região Central de Minas.
Mestra das artesãs da renda turca de bicos, protegida como bem cultural de natureza imaterial em Sabará, a mineira Nilza Starling Almeida, de 87 anos, não vacila na cadência de agulha e linha e nem mesmo ao se recordar de algumas das mais de 200 alunas a quem ensinou nos últimos 30 anos na cidade histórica. “Continuo gostando de desafios. Vou fazer 88 anos e o dia em que não dou alguns pontos não passa. Isso é que está me segurando”, repete durante os encontros às segundas e quartas-feiras com as 15 mulheres do grupo Requifife – Rendas e Bordados Finos.

Toalha em Richelieu

Artesã e líder administrativa do grupo, a filha Nayla Starling diz que não há como atender todo o volume de encomendas que chega, incluindo intermediários de clientes da França, Itália, Portugal e da Holanda. O portfólio é variado e rico em criatividade, oferecendo de toalhas de mão vendidas por R$ 30 a vestidos infantis comercializados a R$ 200. Uma única toalha de rosto pode consumir oito horas de trabalho e encantar do público que frequenta a Casa de Cultura de Sabará aos visitantes da Feira Nacional de Artesanato, realizada todo ano em BH, ou de outros eventos das quais o grupo participa. “Não tiramos férias do bordado. É como terapia, além de ajudar na vida financeira”, diz Nayla.
Os poucos dados mais recentes sobre a importância do artesanato dos bordados para o emprego e a renda dos brasileiros indicam que a atividade despontou, praticada em 74,2% dos municípios, em 2012, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ela constitui traço da cultura nacional, alcançando 93% dos municípios de Sergipe, o campeão no desenvolvimento dessa arte, e 82,1% das cidades do Espírito Santo. Minas é o terceiro colocado. Há bordadeiras no pleno exercício da profissão em 695 dos 853 municípios, quer dizer, em 81,5% do total. A abrangência do trabalho supera com larga vantagem o artesanato em madeira, que estava presente em 33,7% do país em 2012.

DO CRIVO AO RICHELIEU 

Não foi sem esforço que Barra Longa passou a ser conhecida como capital brasileira da renda. Há quem garanta que a atividade é a segunda em geração de emprego e renda na cidade produtora de leite, com seus 6 mil habitantes. Seja na área rural, seja dentro do perímetro urbano, não há casa que se preze sem mulheres afiadas na confecção de peças em crivo, fuxico e renda Richelieu, assim chamada em referência ao gosto pelos tecidos de linho de fino acabamento do lendário cardeal francês de Richelieu, conselheiro do rei Luiz XIII no século 17.
A Associação Barralonguense de Bordadeiras e Artesãos (Abba), criada em 2003, nasceu do empenho de mulheres como Maria Aparecida Lanna para fortalecer a produção e o comércio, que tem raízes na era da mineração de ouro na região. “Está no sangue. Vendemos pastel e organizamos bazar para conseguir os recursos e registrar a associação”, conta a artesã. 
A organização trouxe benefícios, como o acesso aos cursos de empreendedorismo do Sebrae, facilitando também a participação em feiras e eventos. A compra coletiva de matérias-primas (linhas e tecidos) direto das fábricas barateou o custo de produção das peças. Com patrocínio da Samarco Mineração, em 2010 a associação adquiriu máquina de overlock para acabamento, que o grupo usa de forma coletiva. As bordadeiras atendem demanda de diversos municípios, a exemplo de Santo Antônio do Grama, Santa Margarida, Guiricema e Acaiaca. 
Em Barroso, na Região Central de Minas, a Associação Ortópolis Barroso apoia o trabalho tradicional dos bordados. A artesã Eliana Ladinho Vale de Melo aderiu à legislação do microempreendedor em setembro do ano passado e já contrata os serviços de crochê de outras bordadeiras do município para dar conta de atender os pedidos. O marido, Geraldo dos Reis Melo, se associou no negócio, confeccionando as bases de madeira usadas em bandejas, porta-copos, caixas de bijuteria e maquiagem. O momento, agora, é pensar em como expandir a produção, conta Eliana. “Preciso de mais gente para trabalhar comigo. Há 50 anos faço do crochê um trabalho prazeroso e que complementa a renda da minha família”, afirma.

Fonte: http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2014/03/31/internas_economia,513514/rendas-e-bordados-sao-boa-fonte-de-rendapara-mulheres-no-interior-de-minas.shtml

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