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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Simbologia do número 8

 O número do equilíbrio, da justiça e da renovação

imagem: A roda da fortuna com 8 raios - Mosaico Catedral de Siena

Assim como o 8º dia da semana inicia a nova semana, a escala musical retorna ao início com a oitava, o oitavo som, da mesma maneira o 8 simboliza um novo começo num plano mais elevado. Ele é a fronteira, o elo, o intermediário para uma esfera ou um mundo melhor, maior, ou mais elevado. Esse simbolismo apresenta-se também na estrela de oito pontas e no octógono. Em analogia ao 4, o quadrado representa tudo o que é terreno; o círculo representa a esfera celeste e, por sua vez, o octógono representa, de uma maneira evidente,  linha intermediária entre esses dois mundos.
imagem:Teto da Catedral Ely  - Inglaterra
Essa transição do quadrado terreno para o círculo divino é vista em muitas igrejas, onde, por cima do cruzeiro, ergue-se um octógono sobre o qual encontra-se a abóbada celeste. Como intermediário entre o quadrado e o círculo, o octógono simboliza o limiar até o qual, nós, na Terra, podemos nos aproximar do divino, do eterno e do ideal, e também o quanto os Céus são benevolentes conosco.
Por isso, o 8 tornou-se tão importante no Cristianismo. Ele simboliza o próprio Cristo, cujo nome, em grego, tem o valor numérico 888 (*), sobretudo por ele ser o intermediário entre Deus e os homens, e a sua ressurreição ser celebrada como o oitavo dia da criação, com o qual um novo tempo, uma nova aliança (Novo Testamento) se inicia.
A estrela de Natal que anuncia o nascimento de Cristo também lembra esse simbolismo, e tem tradicionalmente oito pontas. Também as oito pessoas que sobreviveram ao dilúvio na Arca de Noé, segundo o relato bíblico, expressam a ideia de um recomeço. Será essa a razão de o número 8 ser considerado um número de sorte e a roda de oito raios ser a roda da fortuna?
imagem por: Nicole d'Oresme (c. 1323-1372) -
Le livre du Ciel et du Monde, Paris, BnF, Manuscrits, Fr. 565, f. 69, (1377)

O oito era considerado, já na Antiguidade, uma meta merecedora de esforços para ser alcançada. No caminho para a salvação a alma tem de passar pelos 7 céus dos 7 planetas, até chegar à oitava esfera, o firmamento, onde habitam os deuses. Esse simbolismo é encontrado, entre outros, no panteão romano, uma construção circular, na qual o octógono é marcado por nichos distribuídos nos outo ângulos.

O octogonal Castel Del Monte cercado por 8 torres
A ligação estável entre dois mundos, como o Céu e a Terra, este mundo e o além, o tempo e a eternidade, é representada visualmente pelo 8 deitado, a Lemniscata ().
Este símbolo da eternidade também ilustra o princípio hermético " o que está em cima é como o que está embaixo", que corresponde no Cristianismo ao "assim na terra como no céu". Por outro lado, diz-se também que o oitavo dia não tem fim, pois Cristo ressuscitou no oitavo dia da semana, e com isso abriu a porta da eternidade para a humanidade.
O simbolismo do oito como transição também é conhecido em outras culturas como um novo começo num nível mais elevado, e como libertação ou ascensão. 

imagem: Ogdóade
No mito egípcio da criação de Hermópolis, quatro casais de deuses, a Ogdóade (agrupamento de 8 divindades), personificam as forças primordiais que formam o princípio de tudo. No Judaísmo, a circuncisão é feita
no oitavo dia após o nascimento, e simboliza, assim como no bastimo no Cristianismo, a aliança com Deus.
No Budismo, existem quatro nobre verdades, com as quais os sofrimentos do mundo são descritos, e os oito caminhos, que libertam o homem dessas dores.


Odin montado em Sleipnir

Na mitologia nódica, Odin, o pai dos céus, é levado por Sleipnir, seu cavalo de oito patas, em sua viagem entre o Céu e a Terra. 
Desde o tempo de Pitágoras, o 8 é considerado o número da justiça, por se deixar dividir sempre em partes  iguais. 


imagens: Marseilles Fournier Tarot Decks  e   Raider-Waite Tarot

Por essa razão, a justiça sempre ocupou tradicionalmente o 8º lugar nos Arcanos Maiores do Tarô, como no de Marselha, até que, com o lançamento do Tarô de Rider-Waite em 1909, houve uma mudança na numeração e a justiça foi empurrada para o 11º lugar.
O oito também é conhecido como um símbolo de justiça entre os povos germânicos. Consta que a sua "Femergericht", a Liga da Corte Sagrada, era formada por oito (acht em alemão) juízes, os ächten ou echten a quem se devia respeito. Eles tinham o direito de sentenciar o acusado e declará-lo fora da lei e sem direitos. Essa sentença era conhecida como "marcar com o oito". Desse costume surgiu uma sentença que o Império Alemão pode promulgar até 1806.
A associação de justiça com o lado direito não é comum apenas na língua alemã. A palavra francesa droit e a inglesa right também significam direito e direita. Com isso, essas e outras línguas nos lembram que a jurisdição é uma expressão do lado direito e consciente, cuja tarefa consiste e, fazer um julgamento consciente, bem pensado, justo e fundamentado.
Mais interessante ainda é o fato de o despertar da consciência também ser expressado por meio do oito. Em várias línguas européias, a diferença entre a palavra "noite" - um símbolo do inconsciente - e a palavra "oito", consiste apenas ma perda do "n" no início da palavra, com o qual, nessas línguas começa a palavra "não", que por sua vez, faz parte do âmbito simbólico do inconsciente:

Alemão e Holandês = nacht  e acht
Inglês = night e eight
Francês = nuit e huit
Italiano = notte e otto
Espanhol = noche e ocho
Português = noite e oito
Latim = nox e octus
Sueco/Norueguês = natt e atta

Dessa maneira todas essas línguas "lembram" que o oito é a expressão da noite libertada no "n negativo", e com isso ele personifica o novo dia e o despertar da consciência.

(*)Número 888 - Valor numérico da palavra grega para Jesus (ΙΗΣΟΥΣ):
Ι (Iota) = 10, Η (Eta) = 8, Σ (Sigma) = 200, Ο (Ômikron) = 70, Υ (Ípsilon) = 400 Σ (Sigma) = 200. Já que o 8 é, notoriamente, um numero de Cristo, o 8 triplo é considerado também, um simbolo seu.



Vale conferir:

Fonte: Trechos do livro Simbolismo e o significado dos números por Hajo Banzhaf - Ed. Pensamento

4 comentários:

  1. Gostei muito de ler este artigo, parabéns!

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    1. Obrigada, Mónica.
      Os livros de Hajo Banzhaf são ótimos e este sobre os números é um deles.

      Abraços.

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  2. De nada.
    Os textos de Hajo Banzhaf são ótimos.

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