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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Lendas dos Orixás: Orunmilá - Ifá - Orula

ORUNMILÁ RECEBE DE OBATALÁ O TÍTULO DE BABALAÔ 
Orúmila por Gil Abelha

Fazia muito tempo
que Obatalá admirava a inteligência de Orunmilá.
Em mais deu uma ocasião
Obatalá pensou em entregar a Orunmilá o governo do mundo.
Pensou em entregar a Orunmilá o governo dos segredos,
os segredos que governam o mundo
e a vida dos homens.
Mais quando refletia sobre o assunto
acabava desistindo.
Orunmilá, apesar da seriedade de seus atos,
era muito jovem para missão tão importante.
Um dia, Obatalá quis saber se Orunmilá
era tão capaz quanto aparentava
e lhe ordenou que preparasse a melhor comida
que pudesse ser feita.

Orunmilá preparou uma língua de touro
e Obatalá comeu com prazer.
Obatalá então, perguntou a Orunmilá por qual razão
a língua era a melhor comida que havia.
Orunmilá respondeu:
“Com a língua se concede axé(*),
se ponderam as coisas,
se proclama a virtude,
se exaltam as obras
e com seu uso os homens chegam à vitória”.
Após algum tempo, Obatalá pediu a Orunmilá
para preparar a pior comida que houvesse.
Orunmilá lhe preparou a mesma iguaria.
Preparou língua de touro.
Surpreso, Obatalá lhe perguntou como era possível
que a melhor comida que havia fosse agora a pior.
Orunmilá respondeu:
“Porque com a língua os homens se vendem e se perdem,
com a língua se destrói a boa reputação
e se cometem as mais repudiáveis vilezas”.
Obatalá ficou maravilhado com a inteligência
e precocidade de Orunmilá.
Entregou a Orunmilá nesse momento o governo dos segredos.
Orumilá foi nomeado babalaô,
palavra da língua dos orixás que quer dizer pai do segredo.
Orunmilá foi o primeiro babalaô.
 (*)axé = força mística dos orixás, força vital que transforma o mundo


ORUNMILÁ PREFERE A PACIÊNCIA À DISCÓRDIA E À RIQUEZA 
Orunmilá por Aurilda Sanches©
Orunmilá era um homem que nada sabia de seu passado ou futuro.
Ela nada tinha e mandaram que fizesse um ebó(**)
para que melhorasse suas condições de vida.
Assim feito.
Um dia, três mulheres vieram bater à sua porta.
Chamavam-se Paciência, Discórdia e Riqueza.
Todas queriam viver com Orunmilá, 
mas ele preferiu viver com Paciência.
As outras duas começaram a discutir por causa da escolha.
Uma dizia que a escolha de Orunmilá fora extravagante.
A outra dizia que isso era do gosto de cada um.
Como não se entendessem e se agredissem mutuamente,
trabalhadores das estradas mais próximas vieram separá-las.
Eles as levaram ao chefe local
e cada uma falou a seu modo do que acontecera.
Como ninguém podia testemunhar o fato,
levaram-nas até a casa do babalaô da aldeia,
o homem mais sábio do lugar,
o adivinho que poderia resolver a causa.
Quando elas o viram, disseram:
" É por causa deste homem que estamos brigando.
Porque ele ficou com Paciência
e desprezou a nós, Discórdia e Riqueza".
Então disse Orunmilá:
"Onde tem Paciência tem tudo.
Sem Paciência não podemos viver".
E disseram elas:
"Por isso vamos ficar com este homem,
porque onde tem Paciência tem tudo".
(**) ebó = oferenda


ORUNMILÁ TRAVA LONGA CONTENDA COM SEU ESCRAVO OSSAIM
Orunmilá-Ifá por Carybé
Orunmilá precisava de um escravo e foi ao mercado comprar um.
Entre todos, escolheu Ossaim.
Levou Ossaim para casa e o mandou desmatar
suas terras, onde deveria preparar o plantio.
Ossaim retornou sem ter cumprido as ordens de Orunmilá.
Questionado sobre o seu desmando, Ossaim explicou
que a maioria das ervas tinha o poder de cura
e assim não podia ser derrubada.

Orunmilá interessou-se por esse conhecimento
e nomeou Ossaim para acompanhá-lo nas sessões de adivinhação.
Não tardou para que as rivalidades surgissem,
principalmente porque Ossaim não aceitava ser submisso a Orunmilá.
Julgava-se mais importante que seu mestre.

Esse fato chegou aos ouvidos do rei Ajalaiê,
que resolveu submetê-lo a uma disputa,
para verificar quem era o mais antigo e mais importante.
Chamou-os e pediu que trouxessem seus filhos primogênitos.
Os dois seriam enterrados durante sete dias,
findos os quais seriam chamados.
Quem respondesse primeiro ao chamado seria declarado vencedor,
trazendo as honras para o pai.
O filho de Orunmilá chamava-se Sacrifício.
Orunmilá consultou Ifá para verificar se seu filho se salvaria.
Foi orientado a oferecer sacrifícios de comidas e animais.
Devia oferecer um coelho, um galo, e um bode,
além de um pombo e dezesseis búzios-da-costa.
As oferendas foram colocadas nos locais determinados,
dentre elas uma aos pés de Exu.
Com seu poder, Exu ressuscitou o coelho
e o coelho cavou um buraco
e levou alimento a Sacrifício, mantendo-o vivo.

O filho de Ossaim chamava-se Remédio.
Ele não tinha o que comer,
mas com feitiços poderosos conseguiu
chegar à casa de Sacrifício.
Pediu-lhe comida. Sacrifício negou.
Remédio propôs-lhe um pacto em troca da comida.
Ele manter-se-ia calado quando os chamassem.
Sacrifício aceitou e deu-lhe de comer.

Chegando o dia, ambos foram chamados,
mas somente Sacrifício respondeu ao apelo,
saindo vivo e vitorioso da cova.
Remédio saiu depois e Ossaim questionou o porquê de seu ato.
Ele contou ao pai sobre o pacto feito.
Orunmilá(***) ganhou e foi considerado mais importante que Ossaim,
porque o Sacrifício é mais eficaz que o Remédio.

(***)ORUNMILÁ = orixá do oráculo. Importantíssimo em Cuba, onde é chamado de ORULA, está praticamente esquecido no Brasil, exceto em alguns xangôs tradicionais de Pernambuco e em candomblés africanizados, em que seu culto vem sendo recuperado.

SAIBA MAIS SOBRE

Fonte: Mitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi - Cia. das Letras