Gatos conquistam os belo-horizontinos que querem um animal em casa
Apesar do aumento do interesse pelos bichanos, muitos ainda são abandonados e maltratados, principalmente os de pelo preto
“Com um lindo salto, leve e seguro, o gato passa do chão ao muro. Logo mudando de opinião, passa de novo do muro ao chão.” Os versos de Toquinho descrevem bem a personalidade dos felinos, que têm, cada vez mais, conquistado os belo-horizontinos. Na percepção de gateiros, termo que designa quem não só ama, mas cuida e ajuda a desconstruir mitos associados aos felinos, há um crescimento no número de pessoas que os escolhem como bicho de estimação. A violência e o abandono ainda são muito frequentes, principalmente com os de pelo preto, mas também aumentou a ação de voluntários que lutam para que haja uma política de proteção dos bichanos.
De acordo com o último censo, feito em 2013 pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), a capital mineira tem cerca de 55 mil gatos, uma população que corresponde a um quinto da população canina, de cerca de 275,6 mil. “As pessoas estão aprendendo a conviver com os gatos. Estão percebendo que é um mito a percepção de que são animais traiçoeiros, que gostam apenas da casa e não gostam do dono”, afirma a presidente da organização não governamental (ONG) Basta Adotar, Mailce Mendes.
Eliot, Hugo e Atlas são companheiros da cientista política Elaine Gontijo, de 28 anos, e de seu marido, o professor do Departamento de Ciência Política da UFMG Fernando Filgueiras. Na infância e adolescência, Elaine teve cachorros em casa. Mas, ao ir morar sozinha quando adulta, percebeu que o gato seria a melhor opção para quem tinha uma rotina atribulada. “Antes, tinha a impressão que gatos eram traiçoeiros e não gostavam de gente, mas logo percebi que são mitos.” Ao vir para Minas, ela trouxe o bicho de estimação, que também foi junto depois do casamento. Um dos acordos para a união foi garantir a adaptação de Eliot, adotado em Brasília por ela, ao convívio com Hugo e Atlas, que foram escolhidos em BH por Fernando.
Elaine está grávida e é dona de Hugo e outros dois bichanos |
Para ela, os felinos são mais independentes e cuidar deles é mais prático. “São apegados, carinhosos e dão menos trabalho”, diz. O trio faz as necessidades fisiológicas sempre em um mesmo lugar. Basta colocar areia em um ponto da casa. Se o casal tiver que fazer uma viagem curta, de quatro a cinco dias, eles ficam sozinhos sem entrarem em depressão. Basta deixar ao alcance comida e água.
Outra vantagem é que os gatos costumam limpar a si próprios com lambidas, o que faz com que seja uma opção, e não uma obrigação levá-los para tomar banho em petshops. “Optamos por dar banho uma vez por mês, mas nem precisava, porque eles mesmos se limpam. Lambem a si próprios e uns aos outros”, pontua Elaine. Outro mito na avaliação dela é a relação com gestantes. O fato de estar grávida não mudou a proximidade com os felinos. “Hugo foi o primeiro a descobrir que estava grávida. Quando estava de duas semanas de gravidez, ele subia no meu colo e afava minha barriga. Já apaixonado pelo Pedro antes mesmo de ele nascer”, lembra.
Quem tem gatos de estimação costuma adotá-los. Foi o caso do professor do curso de história da UFMG Luiz Carlos Villalta, de 52. Dos três gatos que tem, dois foram adotados. Cleópatra e Ninho foram abandonados na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), no câmpus da Pampulha. O amor pelos felinos veio também na fase adulta. “Sou de uma família que incentiva o preconceito com os gatos. Meu pai detestava gatos e ensinou a mim e a meu irmão odiá-los, porque matavam passarinhos”, lembra.
APEGO
Os gatos abriram pouco a pouco espaço na vida de Villalta. O primeiro contato para desmitificar ocorreu em São Paulo, quando o professor ficou hospedado na casa de um amigo. “Os gatos dele iam dormir comigo”, diz. Na casa de uma amiga em Coimbra, em Portugal, a situação se repetiu. “Eles eram muito apegados a ela, que tinha muito ciúme deles. Mas também escolheram dormir comigo.” O momento decisivo foi há dois anos, quando um amigo lhe pediu para tomar conta do gato. “Relutei, mas aceitei. Esse gato é o Romão, que está comigo até hoje. Nunca devolvi.”
A relação que os donos desenvolvem com os felinos é diferente da que se estabelece com os cachorros. Quem tem gatos garante que os animais são mais independentes, mais livres. Apesar disso, é aconselhável ter pelo menos dois, para que não se sintam sozinhos. “Romão era muito sozinho, imperial. Demandava muita atenção, então achei que era necessário encontrar uma fêmea para ele.” Depois de uma tentativa que não deu certo, Villalta encontrou Cleópatra. Depois de um período de adaptação, que durou dois dias, a gata tornou-se amiga de Romão. “Ela era muito pequenina, mas reagia e o enfrentava. No final do segundo dia, estavam pacificados. No terceiro, já eram amigos.”
Outro mito em relação aos gatos que o professor procura desconstruir é que eles não se dão bem com cachorros. Ele também adotou Sophia, uma lhasa apso abandonada nas ruas pelo antigo dono. “Ela estava esquálida, abandonada. Fiz uma bateria de exames para saber se estava doente, divulguei foto para tentar encontrar o dono. Mas não o localizei.” Os três gatos e a cadela convivem em harmonia. “O amor do cachorro é absoluto. Com o gato é um sentimento condicional. Depende da relação que o dono estabelece com ele.”
ADOÇÃO E CASTRAÇÃO
Para adotar um animal, o interessado deve comparecer ao Centro de Controle de Zoonoses
Se o animal for filhote, é necessário aguardar que o animal seja desmamado
O prazo pode ser de até 45 dias.
Os interessados podem ligar para (31) 3277-7411 ou para (31) 3277-7413
Para castrar seu animal entre em contato com:
Centro de Controle de Zoonoses
Rua Edna Quintel, 173 - São Bernardo
Telefone: (31) 3277-7411 e (31) 3277-7413
Centro de Esterilização de Cães e Gatos Noroeste
Rua Antônio Peixoto Guimarães 33 - Caiçara
Telefone: (31) 3277-8448
Centro de Esterilização de Cães e Gatos Oeste
Rua Alexandre Siqueira 375 - Salgado Filho
Telefone: (31) 3277-7576