Oxalá, rei de Ejigbô, vivia em guerra.
Gostava de guerrear e de comer.
Gostava muito de uma mesa farta.
mas gostava mais de inhame amassado.
Jamais se sentava para comer se faltasse inhame.
sempre chegando tarde para fazer a guerra.
e fazer todas as suas guerras.
o mesmo que Oxaguiã na língua do lugar.
(*) Oxaguiã = Oxalá jovem; orixá da Criação; inventou o pilão para comer inhame mais facilmente, criandoassim a cultura material. No Brasil e em Cuba é considerado uma qualidade de Oxalá; na África é o orixá que teria sido rei de Ejigbô, o Elejigbô.
AJAGUNÃ(*) DESTRÓI PALÁCIOS PARA O POVO TRABALHAR
Ajagunã, o filho guerreiro de Oxalá,
andava junto com Ogum fazendo a guerra.
Onde Ogum destruía uma cidade,
Ajagunã construía outra maior e mais próspera.
Conquistavam para seu povo todos os campos de inhame
e todas as riquezas em ouro e escravos.
O jovem Oxalá não tinha descanso,
estava sempre provocando novas situações,
obrigando todo mundo a trabalhar e progredir.
Onde a paz resultava em calmaria e preguiça
ele provocava a discórdia e o movimento,
ninguém podia se acomodar na presença de Ajagunã.
Um dia, entre uma batalha e outra,
Ajagunã foi à cidade de Ogum em busca de munição.
Lá chegando, viu que o povo festejava.
Tinham acabado a construção de um palácio novo,
que ofereciam para o seu rei Ogum.
A eles perguntou Ajagunã:
"Que fazeis agora que o palácio está feito?"
Responderam eles:
"Descansamos de nosso feito. Festejamos".
Disse Ajagunã:
"Vosso rei está em guerra e tardará.
Aproveitai o tempo e fazei um trabalho melhor.
Um palácio mais belo e resistente,
do qual ele haverá de mais se orgulhar".
E tocou a parede do palácio com sua espada
e o palácio ruiu.
Ajagunã voltou para a guerra
e quando, de outra feita, à cidade retornou,
lá estava o palácio refeito,
maior, mais imponente, mais bonito.
Ao povo que comemorava com festas
a conclusão da nova fortaleza de Ogum,
perguntou Oxalá Ajagunã:
"Que fazeis agora que o palácio está feito?"
Responderam eles:
"Descansamos do nosso feito. Festejamos".
Disse Ajagunã:
"Vosso rei está em guerra e tardará.
Aproveitai o tempo e fazei um trabalho melhor.
Um palácio mais belo e resistente,
do qual ele haverá de se orgulhar".
E derrubou o palácio de novo.
E tantas vezes isso se repetiu
que os habitantes daquela cidade se transformaram
num povo de grandes construtores
e sua engenharia é reconhecida até os dias de hoje.
Porque Ajagunã não gosta de ver ninguém parado.
(*) Ajagunã = título com o significado de grande guerreiro; outro nome para Oxaguiã,
o Oxalá jovem e guerreiro que inventou o pilão.
OXAGUIÃ ENCONTRA IEMANJÁ E LHE DÁ UM FILHO
Houve um tempo em que os orixás viviam do outro lado do oceano.
Mas depois tiveram que vir para o lado de cá,
para acompanhar seus filhos que foram trazidos como escravos.
Assim vieram todos e assim veio Oxaguiã.
Oxaguiã veio boiando na superfície do mar,
navegando no tronco flutuante de uma árvore.
A travessia durou muito tempo, mas de um ano.
Foi nessa viagem que Oxaguiã conheceu
Iemanjá,
que era dona do próprio mar em que viajava Oxaguiã.
Logo se conheceram e logo se gostaram.
Oxaguiã era moço, forte, corajoso;
Iemanjá era mulher bonita destemida e sedutora.
Iemanjá engravidou de Oxaguiã
e nove meses depois deu a luz à um menino,
que já nasceu valente e forte, querendo guerrear.
Mais tarde chamaram o menino de Ogunjá.
Sempre que ia à guerra, a mãe o acompanhava
e então todos a chamavam Iemanjá Ogunté.
Oxaguiã, Ogunté e Ogunjá formam uma família de guerreiros.
E eles são muitos festejados no Brasil.
Fonte: Mitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi - Cia. das Letras