quarta-feira, 1 de maio de 2013

Lendas dos Orixás: Oxaguiã - Ajagunã

OXAGUIÃ(*) INVENTA O PILÃO
Oxaguiã by Carybé

Oxalá, rei de Ejigbô, vivia em guerra.
Ele tinha muitos nomes, 
uns o chamavam de Elemoxó, outros de Ajagunã, 
ou ainda Aquinjolê, filho de Oguiriniã. 
Gostava de guerrear e de comer.
Gostava muito de uma mesa farta.
Comia caracóis, canjica, pombos brancos, 
mas gostava mais de inhame amassado.
Jamais se sentava para comer se faltasse inhame.
Seus jantares se estavam sempre atrasados, 
pois era muito demorado preparar o inhame, 
Elejigbô, o rei de Ejibô, estava assim sempre faminto, 
sempre castigando as cozinheiras,
sempre chegando tarde para fazer a guerra.
Oxalá então consultou os babalaôs, 
fez oferendas a Exu
e trouxe para humanidade uma nova invenção. 
O rei de Ejigbô inventou o pilão 
e com o pilão ficou mais fácil preparar o inhame
e Elejigbô pôde se fartar 
e fazer todas as suas guerras.
Tão famoso ficou o rei por seu apetite pelo inhame 
que todos agora o chamam de 
"Orixá Comedor de Inhame Pilado",
o mesmo que Oxaguiã na língua do lugar.


(*) Oxaguiã = Oxalá jovem; orixá da Criação; inventou o pilão para comer inhame mais facilmente, criandoassim a cultura material. No Brasil e em Cuba é considerado uma qualidade de Oxalá; na África é o orixá que teria sido rei de Ejigbô, o Elejigbô.


AJAGUNÃ(*) DESTRÓI PALÁCIOS PARA O POVO TRABALHAR

Ajagunã, o filho guerreiro de Oxalá,
andava junto com Ogum fazendo a guerra.
Onde Ogum destruía uma cidade,
Ajagunã construía outra maior e mais próspera.
Conquistavam para seu povo todos os campos de inhame
e todas as riquezas em ouro e escravos.
O jovem Oxalá não tinha descanso,
estava sempre provocando novas situações,
obrigando todo mundo a trabalhar e progredir.
Onde a paz resultava em calmaria e preguiça
ele provocava a discórdia e o movimento,
ninguém podia se acomodar na presença de Ajagunã.

Um dia, entre uma batalha e outra,
Ajagunã foi à cidade de Ogum em busca de munição.
Lá chegando, viu que o povo festejava.
Tinham acabado a construção de um palácio novo,
que ofereciam para o seu rei Ogum.
A eles perguntou Ajagunã:
"Que fazeis agora que o palácio está feito?"
Responderam eles:
"Descansamos de nosso feito. Festejamos".
Disse Ajagunã:
 "Vosso rei está em guerra e tardará.
Aproveitai o tempo e fazei um trabalho melhor.
Um palácio mais belo e resistente,
do qual ele haverá de mais se orgulhar".
E tocou a parede do palácio com sua espada
e o palácio ruiu.
Ajagunã voltou para a guerra
e quando, de outra feita, à cidade retornou,
lá estava o palácio refeito,
maior, mais imponente, mais bonito.
Ao povo que comemorava com festas
a conclusão da nova fortaleza de Ogum,
perguntou Oxalá Ajagunã:
"Que fazeis agora que o palácio está feito?"
Responderam eles:
"Descansamos do nosso feito. Festejamos".
Disse Ajagunã:
"Vosso rei está em guerra e tardará.
Aproveitai o tempo e fazei um trabalho melhor.
Um palácio mais belo e resistente,
do qual ele haverá de se orgulhar".
E derrubou o palácio de novo.
E tantas vezes isso se repetiu
que os habitantes daquela cidade se transformaram
num povo de grandes construtores
e sua engenharia é reconhecida até os dias de hoje.
Porque Ajagunã não gosta de ver ninguém parado.

(*) Ajagunã = título com o significado de grande guerreiro; outro nome para Oxaguiã,
 o Oxalá jovem e guerreiro que inventou o pilão.



OXAGUIÃ ENCONTRA IEMANJÁ E LHE DÁ UM FILHO

Houve um tempo em que os orixás viviam do outro lado do oceano.
Mas depois tiveram que vir para o lado de cá,
para acompanhar seus filhos que foram trazidos como escravos.
Assim vieram todos e assim veio Oxaguiã.
Oxaguiã veio boiando na superfície do mar,
navegando no tronco flutuante de uma árvore.
A travessia durou muito tempo, mas de um ano.
Foi nessa viagem que Oxaguiã conheceu Iemanjá,
que era dona do próprio mar em que viajava Oxaguiã.
Logo se conheceram e logo se gostaram.
Oxaguiã era moço, forte, corajoso;
Iemanjá era mulher bonita destemida e sedutora.
Iemanjá engravidou de Oxaguiã
e nove meses depois deu a luz à um menino,
que já nasceu valente e forte, querendo guerrear.
Mais tarde chamaram o menino de Ogunjá.
Sempre que ia à guerra, a mãe o acompanhava
e então todos a chamavam Iemanjá Ogunté.
Oxaguiã, Ogunté e Ogunjá formam uma família de guerreiros.
E eles são muitos festejados no Brasil.


Fonte: Mitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi - Cia. das Letras

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