PERGUNTA:— Devemos considerar-nos em débito perante Deus, devido à nossa alimentação carnívora, quando apenas atendemos aos sagrados imperativos naturais da própria vida?
RAMATÍS:— Embora os antropófagos também atendam aos “sagrados imperativos naturais da vida”, nem por isso endossais os seus cruentos festins de carne humana, assim como também não vos regozijais com as suas imundices à guisa de alimentação ou com as suas beberagens repugnantes e produtos da mastigação do milho cru! Do mesmo modo como essa nutrição canibalesca vos causa espanto e horror, também a vossa mórbida alimentação de vísceras e vitualhas sangrentas, ao molho picante, causa terrível impressão de asco às humanidades dos mundos superiores. Essas coletividades se arrepiam em face das descrições dos vossos matadouros, charqueadas, açougues e frigoríficos enodoados com o sangue dos animais e a visão patética de seus cadáveres esquartejados. Entretanto, a antropofagia dos selvagens ainda é bastante inocente, em face do seu apoucado entendimento espiritual; eles devoram o seu prisioneiro de guerra, na cândida ilusão de herdar-lhe as qualidades intrépidas e o seu vigor sanguinário. Mas os civilizados, para atenderem às mesas lautas e fervilhantes de órgãos animais, especializam-se nos caldos epicurísticos e nos requintes culinários, fazendo da necessidade do sustento uma arte enfermiça de prazer. O silvícola oferece o tacape ao seu prisioneiro, para que ele se defenda antes de ser moído por pancadas; depois, rompe-lhe as entranhas e o devora, famélico, exclusivamente sob o imperativo natural de saciar a fome; a vítima é ingerida às pressas, cruamente, mas isso se faz distante de qualquer cálculo de prazer mórbido. O civilizado, no entanto, exige os retalhos cadavéricos do animal na forma de suculentos cozidos ou assados a fogo lento; alega a necessidade de proteína, mas atraiçoa-se pelo requinte do vinagre, da cebola e da pimenta, desculpa-se com o condicionamento biológico dos séculos em que se viciou na nutrição carnívora, mas sustenta a lúgubre indústria das vísceras e das glândulas animais enlatadas; paraninfa a arte dos cardápios da necrofagia pitoresca e promove condecorações para os “mestres-cucas” da culinária animal!Os frigoríficos modernos que exaltam a vossa “civilização”, construídos sob os últimos requisitos científicos e eletrônicos concebidos pela inteligência humana, multiplicam os seus aparelhamentos mais eficientes e precisos, com o fito da matança habilmente organizada. Notáveis especialistas e afamados nutrólogos estudam o modo de produzir em massa o “melhor” presunto ou a mais “deliciosa” salsicharia à base de sangue coagulado!
Os capatazes, endurecidos na lide, dão o toque amistoso e fazem o convite traiçoeiro para o animal ingressar na fila da morte; magarefes exímios e curtidos no serviço fúnebre conservam a sua fama pela rapidez com que esfolam o animal ainda quente, nas convulsões da agonia; veterinários competentes examinam minuciosamente a constituição orgânica da vítima e colocam o competente “sadio”, para que o “ilustre civilizado” não sofra as conseqüências patogênicas do assado ou do cozido das vísceras animais!Turistas, aprendizes e estudantes, quando visitam os colossos modernos que são edificados para a indústria da morte, onde os novos “sansões” guilhotinam em massa o servidor amigo, pasmam-se com os extraordinários recursos da ciência moderna; aqui, os guindastes, sob genial operação mecânica, erguem-se manchados de rubro e despejam sinistras porções de vísceras e rebotalhos palpitantes; ali, aperfeiçoados cutelos, movidos por eficaz aparelhamento elétrico, matam com implacável exatidão matemática, acolá, fervedores, prensas, esfoladeiras, batedeiras e trituradeiras executam a lúgubre sinfonia capaz de arrepiar os velhos caciques, que só devoravam para matar a fome! Em artísticos canais e regos, construídos com os azulejos da exigência fiscal, jorra continuamente o sangue rútilo e generoso do animal sacrificado para a glutonice humana!
Mas o êxito da produção frigorífica ainda melhor se comprova sob genial disposição: elevadores espaçosos erguem-se, implacáveis, sobrecarregados de suínos, e os depositam docemente sobre o limiar de bojudos canos de alumínio, inclinados, na feição de “montanha-russa.” Rapidamente, os suínos são empurrados, em fila, pelo interior dos canos polidos e deslizam velozmente, em grotescas e divertidas oscilações, para mergulharem, vivos, de súbito, nos tanques de água fervente, a fim de se ajustarem à técnica e à sabedoria científica modernas, que assim favorecem a produção do “melhor” presunto da moda!Quantos suínos precisarão ainda desliza pela tétrica montanha-russa, criação do mórbido gênio humano, para que possais saborear o vosso “delicioso” presunto no lanche do dia!
PERGUNTA: — Esses métodos eficientes e de rapidíssima execução na matança que se processa nos matadouros e frigoríficos modernos, evitam os prolongados sofrimentos que eram comuns no tipo de corte antigo. Não é verdade?
RAMATÍS: — Pensamos que o senso estético da Divindade há se sempre preferir a cabana pobre, que abriga o animal amigo, ao matadouro rico que mata sob avançado cientificismo da indústria fúnebre. As regiões celestiais são paragens ornadas de luzes, flores e cores, onde se casam os pensamentos generosos e os sentimentos amoráveis de suas humanidades cristificadas. Essas regiões também serão alcançados, um dia, mesmo por aqueles que constroem os tétricos frigoríficos e os matadouros de equipo avançado, mas que não se livrarão de retornar à Terra, para cumprir em si mesmos o resgate das torpezas e das perturbações infligidos ao ciclo evolutivo dos animais. Os métodos eficientes da matança científica, mesmo que diminuam o sofrimento do animal, não eximem o homem da responsabilidade de haver destruído prematuramente os conjuntos vivos que também evoluem, como são os animais criados pelo Senhor da Vida! Só Deus tem o direito de extingui-los, salvo quando eles oferecem perigo para a vida humana, que é um mecanismo mais evoluído, na ordem da Criação.
PERGUNTA: — Surpreendem-nos as vossas asserções algo vivas; muita gente não compreende, ainda, que essa grave impropriedade da alimentação carnívora causa-nos tão terríveis conseqüências! Será mesmo assim?
RAMATÍS: — O anjo, já liberto dos ciclos reencarnatórios, é sempre um tipo de suprema delicadeza espiritual. A sua tessitura diáfana e formosa, e seu cântico inefável aos corações humanos não são produtos dos fluidos agressivos e enfermiços dos “patê de foie-gras” (pasta de fígado hipertrofiado), da famigerada “dobradinha ao molho pardo” ou do repasto albumínico do toucinho defumado!
A substância astral, inferior, que exsuda da carne do animal, penetra na aura dos seres humanos e lhes adensa a transparência natural, impedindo os altos vôos do espírito. Nunca havereis de solucionar problema tão importante com a doce ilusão de ignorar a realidade do equívoco da nutrição carnívora e, quiçá, tarde demais para a desejada solução.
Expomo-vos aquilo que deve ser meditado e avaliado com urgência, porque os tempos são chegados e não há subversão no mecanismo sideral. E mister que compreendais, com toda brevidade, que o veículo perispiritual é poderoso ímã que atrai e agrega as emanações deletérias do mundo inferior, quando persistis nas faixas vibratórias das paixões animais. E preciso que busqueis sempre o que se afina aos estados mais elevados do espírito, não vos esquecendo de que a nutrição moral também se harmoniza à estesia do paladar físico. Em verdade, enquanto os lúgubres veículos manchados de sangue percorrerem as vossas ruas citadinas, para despejar o seu conteúdo sangrento nos gélidos açougues e atender às filas irritadas à procura de carne, muitas reencarnações serão ainda precisas para que a vossa humanidade se livre do deslize psíquico, que sempre há de exigir a terapia das úlceras, cirroses hepáticas, nefrites, artritismo, enfartes, diabetes, tênias, amebas ou uremias!
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...e a pergunta que não quer calar permanece:
... Os banquetes carnívoros e as churrascadas constituem um espetáculo comprometedor à luz do espiritismo. Os espíritos que assistiram a Kardec o declaram, indiretamente, nas respostas às perguntas 713 e 714, do tema “Gozo dos Bens Terrenos”, nos seguintes termos: “A natureza traçou limites aos gozos, para vos indicar onecessário; mas, pelos vossos excessos, chegais à saciedade evos punis a vós mesmos”. À indagação feita sobre que se deve pensar do homem que procura nos excessos de todo gênero o requinte dos gozos, o espírito deu a seguinte resposta, sob n° 714: “Pobre criatura! Mais digna é de lástima do que de inveja, pois bem perto está da morte”. Perto da morte física, ou da morte moral? — perguntou Kardec ao espírito comunicante. E este respondeu: — “De ambas!”
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Alimentação á luz do cosmo
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