domingo, 2 de outubro de 2011

Os Amautas

fonte: El Amauta.org - Google images

Amautas e senda andina

O que significa “Senda Andina”? Acredito que muitas pessoas já ouviram a expressão, muitas delas até já sabem de seu significado, mas a maioria não conhece. Vamos para uma lição bem didática: o que é Senda? Senda é um termo técnico que a maioria das escolas filosóficas e algumas religiões se utilizam para designar o “Caminho”, o “Sendeiro”, o “percurso Espiritual” para àqueles que aspiram à união com o Divino.

É um conceito conhecido desde a Antigüidade e se refere ao Caminho da Perfeição. É um caminho de perfeição, descrito por vários místicos e discernido através da história por alegorias de muitos heróis gregos ou a morte e ressurreição de muitos mitos solares, indicando sempre um trabalho progressivo e de auto-aprimoramento. Uma caminhada sem interesses mundanos que permite um renascimento a níveis superiores de consciência.

No Hinduísmo, esse Caminho divide-se em 3 ramos principais: Kama-yoga (Caminho da Ação, voltado ao trabalho altruísta); Jñana-yoga (Busca do Conhecimento da Sabedoria) e Bhakti-yoga (Caminho da devoção, centralizada no amor). No Budismo, a Senda é descrita através da compreensão das 4 verdades, que depois de compreendidas, na senda de um Caminho, geram oito trilhas até atingir a iluminação: Entendimento Correto; Pensamento Correto; Palavra Correta; Atividade ou ação correta; Modo de vida Correto; Esforço Correto; Atenção Correta; e Concentração Correta.

O estudo mais interessante que temos sobre “As Sendas”, foi escrito por Helena Blavatsky, que nos evidenciou com riqueza e detalhes técnicos o que constitui uma Senda, quais são suas etapas e divisões. Aqui só faço um pequeno resumo, mas aos que se interessarem, podem buscar mais detalhes no livro: Glossário Teosófico (Blavatsky, Helena P.- Ed Ground -São Paulo). Resumindo, a primeira Senda seria a Probatória, onde o buscador realiza a sua purificação pessoal e desenvolve virtudes indispensáveis para sua ascensão. Blavatsky descreve as etapas principais, os quatro estágios principais; o primeiro é chamado de Viveka e trabalha o discernimento entre o real e o irreal. O Vairâgva que é o segundo estágio faz com que sejamos indiferentes a todas as coisas exteriores, passageiras ou ilusórias, trabalha-se com o desapego ao mundo material. A terceira etapa está voltada para o domínio do pensamento, da palavra e da ação. Somos treinados na tolerância, na paciência, na fé, no equilíbrio e na equanimidade. E a última etapa (Mumukcha) estabelece o desejo de união com a divindade e de libertação do Ciclo dos Renascimentos. Cumprindo estes requisitos o candidato é aceito formalmente como um discípulo de um Mestre de Sabedoria e recebe a primeira iniciação.

Conquistando sucesso sobre as provações, o Caminhante (Arhat), está salvo e já não é obrigado a reencarnar para continuar seu progresso (o qual não tem fim), mas pode fazê-lo voluntariamente para auxiliar o mundo e seus irmãos menores. Nesta condição exaltada sua consciência tem os primeiros acessos ao Nirvana, mas ainda não é considerado um ser verdadeiramente perfeito, e tem de realizar outras tarefas para capacitar-se para receber uma iniciação ainda mais alta. Ele deve romper definitivamente os cinco últimos grilhões, que são o desejo pela beleza da forma e desejo por uma vida numa forma, mesmo que seja no mundo celeste; desejo de vida mesmo sem forma; orgulho por suas realizações, e a possibilidade de sentir qualquer agitação ou irritação por qualquer motivo que seja mantendo uma serenidade inabalável em todas as situações. Recebendo a Quinta Iniciação, passa a se chamar Adepto, Mestre, Askha, Amauta – aquele que realizou o propósito para o qual nasceu; já não lhe resta aprender mais nada no reino humano. É como se essa pessoa fosse ungida pelo Espírito Santo e que assim, a primeira coisa que deve fazer é transmitir aos demais sobre o poder que recebeu.


Cruz Chacana - Wikipédia
A Senda Andina é um caminho que surgiu como um presente de Pachamama (Mãe Terra) e procura integrar homem e natureza da forma mais amorosa possível, fazendo com que cada Caminhante desenvolva um profundo sentimento de gratidão e reciprocidade diante de todos os seres viventes no planeta. A Mãe Terra acolhe todos os seres com amorosidade e quando nos dispomos a fazer o mesmo, essa integração amorosa vai gerar uma maneira alegre e simples de viver, fazendo com que se tenha muito consciente o valor de termos a vida, uma vida simples, terna e com muita paixão. Caminhar pela Senda Andina é nos integrarmos á um movimento destinado à expansão da consciência e à educação espiritual das pessoas, com o objetivo de melhorar a relação dos seres humanos com a vida. E, nesse sentido, sempre teremos ao nosso lado um Amauta reparado e acreditamos em uma só raça, a humana, e em uma só condição, a liberdade, ensinando lições e técnicas, aprendendo em unidade grupal. O Movimento que segue a trilha Andina ajuda seus membros a conectarem-se, efetivamente, com seus corações e a escutarem o seu Eu Interno, ajudando-os a confiarem na voz do coração, que é a voz de Pachamama.


Somos uma ponte entre duas energias cósmicas, de acordo com a percepção andina do mundo, somos os mediadores entre a energia de Tayta Inti e Pachamama, somos filhos do casal Divino, e como tais, somos herdeiros de grandes poderes e mistérios. O pai do céu nos entregou um Anjo Solar para nos inspirar e a Pachamama nos entregou como presente animais guias e protetores, que são portais a nossa totalidade. Através do acesso a esses portais conhecemos nosso mundo interno, nos entregamos ao mundo externo e integramos com totalidade à vida. Temos assim o poder para agirmos com sabedoria, seguimos uma intuição sagrada e trilhamos a senda com consciência.

Nas civilizações mais desenvolvidas da Cordilheira Andina, existia um grupo de sábios chamados Amautas, que ao contrário das civilizações orientais, não eram idolatrados e sim eram tidos como trabalhadores que serviam às tribos. No idioma “quéchua”, Amauta quer dizer “homem sábio”. O Amauta era um “caminhante” imbuído de missões muito importantes que iam desde ensinar teologia, contar histórias, criar artes, organizar festas e dar ao povo muita alegria. Um Amauta era uma pessoa sinalizada pelo Divino para seguir um processo especial de aprendizagem que lhe era conferido por outro Amauta mais antigo através da tradição oral, o que acontece até nossos dias. As características principais de um Amauta são: humildade, sensibilidade e disposição para abrir seu coração. O Amauta escuta todos por igual e seus conhecimentos estão todos acessíveis a quem queira aceitá-los; sua caminhada é guiada por seus ancestrais e pelo Grande Espírito.

O Amauta representa a união do céu e da terra, formando um vínculo com todos os seres. É um ícone latino-americano que representa com mestria e sabedoria a história sempre com humildade. Se observar o significado da palavra Amauta, veremos que ela está interligada a sentimentos de gratidão e reciprocidade perante o todo, resultando numa maneira de viver com simplicidade, ternura e paixão. O imenso valor de estar presente na vida, dando atenção a cada momento. O Amauta é um ser que tem noção dos mundos multidimensionais; sabe que é um nagual, que faz a ponte entre os vários mundos e que um de seus propósitos é a integração de todas as tradições espirituais. É um “caminhante” que compreende as energias que fazem parte do dia-a-dia. e pode nos ensinar com sabedoria, amor e devoção os rituais ancestrais andinos que nos auxiliam a entender Pachamama, sustentar nosso crescimento e valorizar o sagrado. Podemos trilhar a Senda Andina, num dos mais importantes trabalhos a serem feitos numa caminhada espiritual.

Essa caminhada pode ser iniciada com auxílio de um Amauta, mas constitui um trabalho pessoal, interno e profundo sobre as raízes do sofrimento, ou seja, nossas sombras ou egos, trazendo luz. Cada um de nós é responsável por si, por esta “limpeza interna” e quando enfraquecemos nosso ego, produzimos espaço interno, que nos faz florescer em amor e liberdade. Pela Senda Andina reaprendemos a importância de gestos antigos como reverenciar a família, os amigos, os costumes saudáveis de cada povo, sentindo, como nossa missão, o resgate dos valores vigorosos do carinho e da responsabilidade por viver em um planeta que está vivo e é nossa mãe, tentando cuidá-lo em todos os nossos dias, e ajudando os amigos e as pessoas que nos rodeiam a aumentar sua responsabilidade e consciência do cuidado que se há de ter com esse ser precioso que nos hospeda. Os Amautas nos ensinam com palavras simples e diretas, que a energia mais preciosa que temos é o amor, o carinho e a simplicidade; que se deve respeitar toda e qualquer tradição desde que se conserve o amor e o carinho pela Mãe Terra.

A Senda Andina nos revela como trilhar um espaço místico com cumplicidade e carinho, cultivando a solidariedade, a fraternidade e a busca em comum de uma vida com qualidade emocional, uma vida grupal, educando a consciência e irradiando carinho. Somos somente uma pequena semente no imenso jardim da vida, e devemos caminhar fraternalmente como pessoas unidas no propósito de semear consciência e carinho, crescer como comunidade (Ayllu) no amor à vida, a esta vida maravilhosa misteriosa e amorosa. Somos todos “caminhantes” e em nossas vidas laços energéticos nos unem a pessoas. Um dos objetivos da Senda Andina é eliminar qualquer ligação dependente, modificando nossos relacionamentos com as pessoas, instituições, situações, trazendo mais amor, alegria e liberdade, proporcionando uma nova maneira de viver e ser feliz.

Os trilheiros da Senda Andina sabem que é importante refazermos a conexão divina. Nosso cotidiano, na sociedade moderna nos distanciou do sagrado e muitos de nossos conflitos poderiam ser aliviados se nós voltássemos a respeitar a necessidade de retiro e de religação com a Mãe Terra Honraremos nosso Caminho Sagrado quando dermos conta do conhecimento intuitivo inerente a sua natureza receptiva; quando confiar nos ciclos da natureza e permitirmos que as sensações venham à tona dentro deles. Precisamos aprender a amar, compreender, e, desta forma, curar uns aos outros; devemos compreender que podemos penetrar no silêncio de nosso próprio coração para que nos seja revelada a beleza do recolhimento e da receptividade. Sabemos que a força das pessoas vem sendo distorcida pelas expectativas sociais de sucesso narcisista, de dominação da natureza, das crianças, do feminino e assim a força vital vai se desequilibrando... O caminhante de uma senda é um Guerreiro de Luz e aprende que deve gastar sua energia partilhando seus sentimentos em vez de lutar contra eles ou escondê-los e se caracteriza pela vontade de partilhar os sentimentos.

A caminhada é feita objetivando recuperar a nossa força interna, o retorno às nossas raízes e nos desvencilharmos aos poucos da personalidade que herdamos social e culturalmente de nossas famílias, a única que conhecemos e alimentamos até o momento. São também “o passaporte” para a entrada no “Ayllu” onde nos voltaremos a gestos antigos de reverenciar a família, os amigos, os costumes saudáveis de cada povo, sentindo, como nossa missão, o resgate dos valores vigorosos do carinho e da responsabilidade por viver em um planeta que está vivo e é nossa mãe, tentando cuidá-lo em todos os nossos dias, e ajudando os amigos e as pessoas que nos rodeiam a aumentar sua responsabilidade e consciência do cuidado que se há de ter com esse ser precioso que nos hospeda. Um trabalho mágico e simples com as forças elementais da Pachamama, para produzir equilíbrio energético e recuperar nossa relação com a vida uma caminhada que inspira uma profunda união com os elementos, num sentimento de amorosidade necessária, para o nosso crescimento pessoal como buscadores. Aprendemos que todo o povo de Pachamama participa da mesma tradição; aprendemos a cavalgar sobre o vento soprando livres em direção a nossa cura e desbloqueio.

Relembramos que acariciar a água nos limpa e nos torna mais sensíveis; que o fogo nos dá luz, calor e vitalidade e que Pachamama é estável, abundante e nos atende e nutre. Passamos a nos tornar mais conscientes de nossos padrões energéticos e da nossa necessidade de reconexão para que nossos corações escutem o suave sussurro de nossa voz interna, a voz da própria Pachamama.



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Fonte: http://www.3milenio.inf.br/101/_artigo101j.htm

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