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Amautas e senda andina
O que significa “Senda Andina”? Acredito que muitas pessoas
já ouviram a expressão, muitas delas até já sabem de seu significado, mas a
maioria não conhece. Vamos para uma lição bem didática: o que é Senda? Senda é
um termo técnico que a maioria das escolas filosóficas e algumas religiões se
utilizam para designar o “Caminho”, o “Sendeiro”, o “percurso Espiritual” para
àqueles que aspiram à união com o Divino.
É um conceito conhecido desde a Antigüidade e se refere ao
Caminho da Perfeição. É um caminho de perfeição, descrito por vários místicos e
discernido através da história por alegorias de muitos heróis gregos ou a morte
e ressurreição de muitos mitos solares, indicando sempre um trabalho
progressivo e de auto-aprimoramento. Uma caminhada sem interesses mundanos que
permite um renascimento a níveis superiores de consciência.
No Hinduísmo, esse Caminho divide-se em 3 ramos principais:
Kama-yoga (Caminho da Ação, voltado ao trabalho altruísta); Jñana-yoga (Busca
do Conhecimento da Sabedoria) e Bhakti-yoga (Caminho da devoção, centralizada
no amor). No Budismo, a Senda é descrita através da compreensão das 4 verdades,
que depois de compreendidas, na senda de um Caminho, geram oito trilhas até
atingir a iluminação: Entendimento Correto; Pensamento Correto; Palavra
Correta; Atividade ou ação correta; Modo de vida Correto; Esforço Correto;
Atenção Correta; e Concentração Correta.
O estudo mais interessante que temos sobre “As Sendas”, foi
escrito por Helena Blavatsky, que nos evidenciou com riqueza e detalhes
técnicos o que constitui uma Senda, quais são suas etapas e divisões. Aqui só
faço um pequeno resumo, mas aos que se interessarem, podem buscar mais detalhes
no livro: Glossário Teosófico (Blavatsky, Helena P.- Ed Ground -São Paulo).
Resumindo, a primeira Senda seria a Probatória, onde o buscador realiza a sua
purificação pessoal e desenvolve virtudes indispensáveis para sua ascensão.
Blavatsky descreve as etapas principais, os quatro estágios principais; o
primeiro é chamado de Viveka e trabalha o discernimento entre o real e o
irreal. O Vairâgva que é o segundo estágio faz com que sejamos indiferentes a
todas as coisas exteriores, passageiras ou ilusórias, trabalha-se com o
desapego ao mundo material. A terceira etapa está voltada para o domínio do
pensamento, da palavra e da ação. Somos treinados na tolerância, na paciência,
na fé, no equilíbrio e na equanimidade. E a última etapa (Mumukcha) estabelece
o desejo de união com a divindade e de libertação do Ciclo dos Renascimentos.
Cumprindo estes requisitos o candidato é aceito formalmente como um discípulo
de um Mestre de Sabedoria e recebe a primeira iniciação.
Conquistando sucesso sobre as provações, o Caminhante
(Arhat), está salvo e já não é obrigado a reencarnar para continuar seu
progresso (o qual não tem fim), mas pode fazê-lo voluntariamente para auxiliar
o mundo e seus irmãos menores. Nesta condição exaltada sua consciência tem os
primeiros acessos ao Nirvana, mas ainda não é considerado um ser
verdadeiramente perfeito, e tem de realizar outras tarefas para capacitar-se
para receber uma iniciação ainda mais alta. Ele deve romper definitivamente os
cinco últimos grilhões, que são o desejo pela beleza da forma e desejo por uma
vida numa forma, mesmo que seja no mundo celeste; desejo de vida mesmo sem
forma; orgulho por suas realizações, e a possibilidade de sentir qualquer
agitação ou irritação por qualquer motivo que seja mantendo uma serenidade
inabalável em todas as situações. Recebendo a Quinta Iniciação, passa a se
chamar Adepto, Mestre, Askha, Amauta – aquele que realizou o propósito para o
qual nasceu; já não lhe resta aprender mais nada no reino humano. É como se
essa pessoa fosse ungida pelo Espírito Santo e que assim, a primeira coisa que
deve fazer é transmitir aos demais sobre o poder que recebeu.
Cruz Chacana - Wikipédia |
A Senda Andina é um caminho que surgiu como um presente de
Pachamama (Mãe Terra) e procura integrar homem e natureza da forma mais amorosa
possível, fazendo com que cada Caminhante desenvolva um profundo sentimento de
gratidão e reciprocidade diante de todos os seres viventes no planeta. A Mãe
Terra acolhe todos os seres com amorosidade e quando nos dispomos a fazer o
mesmo, essa integração amorosa vai gerar uma maneira alegre e simples de viver,
fazendo com que se tenha muito consciente o valor de termos a vida, uma vida
simples, terna e com muita paixão. Caminhar pela Senda Andina é nos integrarmos
á um movimento destinado à expansão da consciência e à educação espiritual das
pessoas, com o objetivo de melhorar a relação dos seres humanos com a vida. E,
nesse sentido, sempre teremos ao nosso lado um Amauta reparado e acreditamos em
uma só raça, a humana, e em uma só condição, a liberdade, ensinando lições e
técnicas, aprendendo em unidade grupal. O Movimento que segue a trilha Andina
ajuda seus membros a conectarem-se, efetivamente, com seus corações e a
escutarem o seu Eu Interno, ajudando-os a confiarem na voz do coração, que é a
voz de Pachamama.
Somos uma ponte entre duas energias cósmicas, de acordo com
a percepção andina do mundo, somos os mediadores entre a energia de Tayta Inti
e Pachamama, somos filhos do casal Divino, e como tais, somos herdeiros de
grandes poderes e mistérios. O pai do céu nos entregou um Anjo Solar para nos
inspirar e a Pachamama nos entregou como presente animais guias e protetores,
que são portais a nossa totalidade. Através do acesso a esses portais
conhecemos nosso mundo interno, nos entregamos ao mundo externo e integramos
com totalidade à vida. Temos assim o poder para agirmos com sabedoria, seguimos
uma intuição sagrada e trilhamos a senda com consciência.
Nas civilizações mais desenvolvidas da Cordilheira Andina,
existia um grupo de sábios chamados Amautas, que ao contrário das civilizações
orientais, não eram idolatrados e sim eram tidos como trabalhadores que serviam
às tribos. No idioma “quéchua”, Amauta quer dizer “homem sábio”. O Amauta era
um “caminhante” imbuído de missões muito importantes que iam desde ensinar
teologia, contar histórias, criar artes, organizar festas e dar ao povo muita
alegria. Um Amauta era uma pessoa sinalizada pelo Divino para seguir um
processo especial de aprendizagem que lhe era conferido por outro Amauta mais
antigo através da tradição oral, o que acontece até nossos dias. As
características principais de um Amauta são: humildade, sensibilidade e
disposição para abrir seu coração. O Amauta escuta todos por igual e seus
conhecimentos estão todos acessíveis a quem queira aceitá-los; sua caminhada é
guiada por seus ancestrais e pelo Grande Espírito.
O Amauta representa a união do céu e da terra, formando um
vínculo com todos os seres. É um ícone latino-americano que representa com
mestria e sabedoria a história sempre com humildade. Se observar o significado
da palavra Amauta, veremos que ela está interligada a sentimentos de gratidão e
reciprocidade perante o todo, resultando numa maneira de viver com
simplicidade, ternura e paixão. O imenso valor de estar presente na vida, dando
atenção a cada momento. O Amauta é um ser que tem noção dos mundos
multidimensionais; sabe que é um nagual, que faz a ponte entre os vários mundos
e que um de seus propósitos é a integração de todas as tradições espirituais. É
um “caminhante” que compreende as energias que fazem parte do dia-a-dia. e pode
nos ensinar com sabedoria, amor e devoção os rituais ancestrais andinos que nos
auxiliam a entender Pachamama, sustentar nosso crescimento e valorizar o
sagrado. Podemos trilhar a Senda Andina, num dos mais importantes trabalhos a
serem feitos numa caminhada espiritual.
Essa caminhada pode ser iniciada com auxílio de um Amauta,
mas constitui um trabalho pessoal, interno e profundo sobre as raízes do
sofrimento, ou seja, nossas sombras ou egos, trazendo luz. Cada um de nós é
responsável por si, por esta “limpeza interna” e quando enfraquecemos nosso
ego, produzimos espaço interno, que nos faz florescer em amor e liberdade. Pela
Senda Andina reaprendemos a importância de gestos antigos como reverenciar a
família, os amigos, os costumes saudáveis de cada povo, sentindo, como nossa
missão, o resgate dos valores vigorosos do carinho e da responsabilidade por
viver em um planeta que está vivo e é nossa mãe, tentando cuidá-lo em todos os
nossos dias, e ajudando os amigos e as pessoas que nos rodeiam a aumentar sua
responsabilidade e consciência do cuidado que se há de ter com esse ser
precioso que nos hospeda. Os Amautas nos ensinam com palavras simples e
diretas, que a energia mais preciosa que temos é o amor, o carinho e a
simplicidade; que se deve respeitar toda e qualquer tradição desde que se
conserve o amor e o carinho pela Mãe Terra.
A Senda Andina nos revela como trilhar um espaço místico com
cumplicidade e carinho, cultivando a solidariedade, a fraternidade e a busca em
comum de uma vida com qualidade emocional, uma vida grupal, educando a
consciência e irradiando carinho. Somos somente uma pequena semente no imenso
jardim da vida, e devemos caminhar fraternalmente como pessoas unidas no
propósito de semear consciência e carinho, crescer como comunidade (Ayllu) no
amor à vida, a esta vida maravilhosa misteriosa e amorosa. Somos todos
“caminhantes” e em nossas vidas laços energéticos nos unem a pessoas. Um dos
objetivos da Senda Andina é eliminar qualquer ligação dependente, modificando
nossos relacionamentos com as pessoas, instituições, situações, trazendo mais
amor, alegria e liberdade, proporcionando uma nova maneira de viver e ser
feliz.
Os trilheiros da Senda Andina sabem que é importante
refazermos a conexão divina. Nosso cotidiano, na sociedade moderna nos
distanciou do sagrado e muitos de nossos conflitos poderiam ser aliviados se nós
voltássemos a respeitar a necessidade de retiro e de religação com a Mãe Terra
Honraremos nosso Caminho Sagrado quando dermos conta do conhecimento intuitivo
inerente a sua natureza receptiva; quando confiar nos ciclos da natureza e
permitirmos que as sensações venham à tona dentro deles. Precisamos aprender a
amar, compreender, e, desta forma, curar uns aos outros; devemos compreender
que podemos penetrar no silêncio de nosso próprio coração para que nos seja
revelada a beleza do recolhimento e da receptividade. Sabemos que a força das
pessoas vem sendo distorcida pelas expectativas sociais de sucesso narcisista,
de dominação da natureza, das crianças, do feminino e assim a força vital vai
se desequilibrando... O caminhante de uma senda é um Guerreiro de Luz e aprende
que deve gastar sua energia partilhando seus sentimentos em vez de lutar contra
eles ou escondê-los e se caracteriza pela vontade de partilhar os sentimentos.
A caminhada é feita objetivando recuperar a nossa força
interna, o retorno às nossas raízes e nos desvencilharmos aos poucos da
personalidade que herdamos social e culturalmente de nossas famílias, a única
que conhecemos e alimentamos até o momento. São também “o passaporte” para a
entrada no “Ayllu” onde nos voltaremos a gestos antigos de reverenciar a
família, os amigos, os costumes saudáveis de cada povo, sentindo, como nossa
missão, o resgate dos valores vigorosos do carinho e da responsabilidade por
viver em um planeta que está vivo e é nossa mãe, tentando cuidá-lo em todos os
nossos dias, e ajudando os amigos e as pessoas que nos rodeiam a aumentar sua
responsabilidade e consciência do cuidado que se há de ter com esse ser
precioso que nos hospeda. Um trabalho mágico e simples com as forças elementais
da Pachamama, para produzir equilíbrio energético e recuperar nossa relação com
a vida uma caminhada que inspira uma profunda união com os elementos, num sentimento
de amorosidade necessária, para o nosso crescimento pessoal como buscadores.
Aprendemos que todo o povo de Pachamama participa da mesma tradição; aprendemos
a cavalgar sobre o vento soprando livres em direção a nossa cura e desbloqueio.
Relembramos que acariciar a água nos limpa e nos torna mais
sensíveis; que o fogo nos dá luz, calor e vitalidade e que Pachamama é estável,
abundante e nos atende e nutre. Passamos a nos tornar mais conscientes de
nossos padrões energéticos e da nossa necessidade de reconexão para que nossos
corações escutem o suave sussurro de nossa voz interna, a voz da própria
Pachamama.
Conforme consta no site a reprodução é permitida desde que citada a fonte e mantidos integralmente todos os créditos.
Fonte: http://www.3milenio.inf.br/101/_artigo101j.htm
Fonte: http://www.3milenio.inf.br/101/_artigo101j.htm
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