segunda-feira, 20 de abril de 2015

Crônicas astrológicas

Recebi o texto abaixo por email onde felizmente constava o nome do autor. Me identifiquei com ele em parte, (quem me dera ser uma sagitariana 100% assim) mas nem por isso não me emocionei. 
Claro que fui buscar a fonte e encontrei outras crônicas astrológicas assinadas por Priscila Merizzio (os links estão no fim da postagem).
Aprecie.

Crônica à flor selvagem e ensolarada sagitariana

Achei que Magnólia viveria mais do que eu. Todos achavam que ela viveria mais do que eu, especialmente nossos netos, com quem ela brincou com muita energia até o fim. No dia em que partiu para o outro mundo, ela havia jogado vôlei na piscina com os meninos durante toda a manhã. Depois, pôs Strauss no aparelho de som da casa e almoçou conosco envolvida em sua habitual alegria, gosto por mesas fartas e espírito de matriarca. Enquanto comia a coxa de carneiro com as mãos, fazia comentários sexuais indiscretos às noras e avisava às crianças da família para que não tapassem o ouvido. Dizia a nós que elas são muito mais inteligentes do que a maioria dos adultos costuma pensar. Elas e os animais. Magnólia adorava crianças e animais. Perto de nós, estavam os cachorros e Magnólia dava a eles pedaços fartos de carnes caras debaixo da mesa. Os mais novos riam de sua ingenuidade, por pensar que estava nos tapeando. Ela nunca soube ser discreta. Também nunca se importou em esbanjar dinheiro. Gostava de comprar roupas, viajar, assistir concertos de música. Sabíamos que não adiantaria censurá-la. A vida toda ela fez as coisas do jeito que quis. Quem não concordasse que fosse embora. Apesar de comer e beber bem e de termos tido seis filhos, Magnólia quase conseguiu manter seu corpo atlético até a idade avançada. Exercitava-se bastante. Gostava sobretudo de cavalgar e de longas caminhadas. Tinha muita vitalidade. Fazia amizade com extrema facilidade e era muito popular. Por isso, fiquei desesperado ao constatar sua morte, no início daquela madrugada. Após o almoço, armou-se temporal de verão, com raios titânicos, fazendo cair a luz da casa. Para nos entreter, Magnólia passou a tarde toda tocando piano. O único momento em que se acalmava e parava de agitar-se para cima e para baixo era quando se sentava ao piano. Em nossos anos de casados, houve épocas em que Magnólia tocava o dia inteiro, durante semanas a fio. Fazia isso às visitas e solitariamente. Às vezes, acordava de madrugada para tocar. Quando brigávamos, ela mandava-me às favas, dizia-me palavrões tenebrosos e trancava-se na sala, onde tocava alucinadamente. Depois, procurava-me como se nada tivesse acontecido e seduzia-me até o quarto. Se estávamos na rua, gostava de me surpreender convidando-me a fazer amor em lugares abertos. Costumava resolver os problemas conjugais na cama. Manteve a libido após a menopausa. Apesar de ser exuberante e chamativa, nunca senti ciúme excessivo de minha querida. Eu sempre soube que jamais poderia dominá-la e também não sou esse tipo de homem. Se o que eu mais gostava nela era seu temperamento de corcel indomável, seria eu capaz de tentar castrá-la? Percebendo meu olhar divagante de devoção, Magnólia sorriu meiga e tocou “The Old Castle”, de Mussorgsky, “Moments Musicaux Nº3”, de Schubert, “Dumka”, de Tchaikovsky e “Träumerei”, de Robert Schumann. As mesmas músicas que tocou em nossas bodas de prata, enquanto, de olhos fechados e balançando a cabeça ao ritmo das notas, murmurava baixinho que me amaria para sempre. Contrariando a vontade dos pais, que desejavam que ela se casasse com um amigo de infância, Magnólia casou-se comigo, um domador de cavalos que estava em sua cidade temporariamente. Foi ela quem me conquistou. Disse-se apaixonada desde o primeiro dia, quando me viu dando água a um potro. Entregou-se rapidamente e não fiquei nem um pouco aturdido quando constatei que aquela dama rica não era mais virgem. Nos encontrávamos escondido todas as noites e nos embolávamos na beira do rio. Fiquei completamente apaixonado. Pensei que era blefe dela quando dizia que deixaria a família para trás e que iria embora comigo para outro país. Era verdade. Quando chegamos no estrangeiro, mostrou-se uma mulher forte e pouco mimada. Trabalhou arduamente como professora de piano às famílias ricas. Tínhamos pouco dinheiro e Magnólia nunca reclamou. Engravidou logo. Ficava preocupadíssimo por não poder dar a ela a vida abastada a qual estava acostumada e ela dizia-me ser rica de amor. Nosso primeiro filho mal tinha completado um ano, quando Magnólia contou-me estar novamente grávida. Fiquei consternado. Como sobreviveríamos? Por um golpe estranho do destino, uma senhora riquíssima e sozinha, que tinha muito apreço por Magnólia e sua maestria ao piano, faleceu e deixou toda a sua fortuna à nossa família. Nem mesmo Magnólia esperava que isso pudesse acontecer. Ficou desoladíssima pela morte de sua amiga. Em sua homenagem, mandou construir o mausoléu mais suntuoso que a cidade já viu e batizou nossa segunda filha com o nome da senhora: Amparo. Seguindo exemplo dos pais, Magnólia investiu a fortuna em propriedades e desde então nunca mais passamos necessidades. Ela nunca importou-se em ser o esteio financeiro da família e dizia que casou-se comigo em comunhão de bens, que toda a riqueza que tinha na vida era por minha causa. Que eu era seu amuleto da sorte. Em sua ingenuidade infantil, acreditava muito na bondade das pessoas. Acreditava tanto que as pessoas acabavam por serem muito gentis com ela e quando não o eram, a vida lhe recompensava de inúmeras outras formas. “Há sempre uma porta aberta esperando por nós”, dizia-me confiante. Em momentos de grande desconsolo, Magnólia manteve-se firme. Nosso quinto filho tinha convulsões quando era pequeno e ela, com uma fé inabalável, fez promessa à Nossa Senhora das Rosas, pondo em sua gruta um bilhete com a data e horário nascimento, a altura e o peso de nosso garotinho. Dias depois, ele foi curado. Não sei até hoje se foi mesmo a santa ou a força do pensamento de Magnólia que fez com que nosso filho sarasse. Se eu soubesse que aquela seria a última noite em que nos deitaríamos juntos, não a teria deixado ir para a cama, a teria chamado para mergulhar nua na piscina comigo –– algo que ela adorava fazer, especialmente em dias de festa. Na hora de dormir, ela pôs disco na vitrola de nosso quarto, como costumava quando sentia-se em extremo regozijo. Quando começou a tocar “Der Leiermann”, de Schubert (interpretada por Thomas Quasthoff e Daniel Barenboim) ela pegou em minha mão e disse que fiz dela a mulher mais feliz do mundo. Me fez prometer que, quando morresse, era para eu dizer aos amigos e parentes que ela havia morrido de alegria. Estranhei por ouvir Magnólia falar nessas coisas. Era raríssimo vê-la sombria. Ela aninhou-se em meu peito e disse-me que a partir daquele momento, a vida seria decadência, que já estava com quase 94 anos. Preferia morrer de amor do que de doença. Confidenciou-me ter sonhado com Nossa Senhora das Rosas. A santa disse que logo eu pegaria a barca. Eu já sou um velho de quase cem anos. Ela não suportaria viver sem mim. Me pediu perdão por ir antes. Repetiu várias vezes seu amor por mim. Não via a hora de me reencontrar, jovem, dando de beber ao potro, como da primeira vez que me viu. Adormeceu para sempre em meu colo, como uma criança angelical. Fiquei horas em silêncio acariciando seus cabelos e chorando baixinho. Que fortuna há em minha vida agora que minha flor selvagem e tropical se foi? Tenho sonhado com ela e sentido sua presença perto de mim. Sei que em breve ela virá me buscar. Magnólia sempre soube que ela era meu sol. O único centauro que não ousei domar.

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6 comentários:

  1. Soraia, fico muito feliz que tenha gostado das crônicas. Escrevi elas para o Saturnália Astrologoa & Cidade. Como não sou astróloga, sou canastróloga, pesquiso e estudo os signos e crio a partir de minha subjetividade. Na sagitariana em especial procurei escrever somente as qualidades positivas do signo e fazer irradiar Júpiter. A da taurina eu preciso rever. Te agradeço demais por tê-las compartilhado em seu blog.

    Merizzia.

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    Respostas
    1. Oi Priscila!

      Adorei seu texto e como já disse na postagem, me identifiquei com ele em muitas coisas.
      Acho que de canastróloga você não tem nada kkkkk.
      Agradeço pela gentileza de seu comentário e por não ter se importado por eu tê-lo postado aqui sem autorização.

      Obrigada.
      Abraços.

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    2. Soraia, eu é quem devo te agradecer por divulgar as crônicas. Colocou os créditos, teve essa delicadeza e esse cuidado. Só sou cheia de gratidão à você. Falta ainda de Capricórnio, Aquário e Peixes. Até o fim do ano sai. rs

      Um grande abraço, cheio de candura.

      Merizzia.

      P.S: É AstrologIa e não Astrologoa. hahaha

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    3. Priscila, assim que saírem os signos restantes eu acrescentarei os links.

      Não entendi o P.S.

      Bjs.

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  2. O P.S é porque no 1º comentário escsrevi Saturnália Astrologoa & Cidade. (-:

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