IROCO AJUDA A FEITICEIRA A VINGAR O FILHO MORTO
Irôko by Gil Abelha |
Iroco era um homem bonito e forte e tinha duas irmãs. Uma delas era Ajé, a feiticeira, a outra era Ogboí, que era uma mulher comum.
Ajé era feiticeira, Ogboí, não.
Iroco e suas duas irmãs vieram juntos do Orum para habitar no Aiê.
Iroco foi morar numa frondosa árvore e suas irmãs, em casas comuns.
Ogboí teve dez filhos e Ajé teve só um, um passarinho.
Um dia, quando Ogboí teve que se ausentar, deixou os dez filhos sob a guarda de Ajé.
Ela cuidou bem das crianças até a volta da irmã.
Mais tarde, quando Ajé teve também que viajar, deixou o filho-pássaro com Ogboí.
Foi então que os filhos de Ogboí pediram ā mãe que queriam comer um passarinho.
Ela lhes ofereceu uma galinha, mas eles, de olhos no primo, recusaram.
Gritavam de fome, queriam comer, mas tinha que ser um pássaro.
A mãe foi então foi à floresta caçar passarinhos, que seus filhos insistiam em comer.
Na ausência da mãe, os filhos de Ogboí mataram, cozinharam e comeram o filho de Ajé. Quando Ajé voltou e se deu conta da tragédia, partiu desesperada ā procura de Iroco.
Iroco a recebeu em sua árvore, onde mora até hoje.
E de lá, Iroco vingou Ajé, lançando golpes sobre os filhos de Ogboí.
Desesperada com a perda de metade de seus filhos e para evitar a morte dos demais, Ogboí ofereceu sacrifícios para o irmão Iroco.
Iroco aceitou o sacrifício e poupou os demais filhos.
Ogboí é a mãe de todas as mulheres comuns, mulheres que não são feiticeiras, mulheres que sempre perdem filhos para aplacar a cólera de Ajé e de suas filhas feiticeiras.
Iroco mora na gameleira branca e trata de oferecer a sua justiça na disputa entre as feiticeiras e as mulheres comuns.
ORIXÁ OCÔ CRIA A AGRICULTURA COM A AJUDA DE OGUM
No princípio, havia um homem que se chamava Ocô.
Mas Ocô não fazia nada o dia todo, não havia o que fazer, simplesmente.
Quando os alimentos na Terra escassearam, Olorum encarregou Ocô de fazer plantações. Que plantassem inhame, pimenta, feijão e tudo mais que os homens comem.
Ocô gostou de sua missão, ficou todo orgulhoso, mas não tinha a menor idéia de como executá-la.
Até que viu, debaixo de uma palmeira, um rapaz que brincava na terra.
Com um graveto ele revolvia a terra e cavava mais fundo.
Ocô quis saber o que fazia o rapaz.
“Preparando a terra para plantar, para plantar as sementes que darão as plantas”, explicou o rapaz de pele reluzente.
“Que sementes, se nem plantas ainda há?”, perguntou, incrédulo, Ocô.
“Nada é impossível para Olodumaré”, foi a resposta.
Começaram então a cavar juntos a terra.
O graveto que usavam como ferramenta quebrou-se e passaram então a usar lascas de pedra.
O trabalho, entretanto, não rendia e Ocô saiu a procura de alguma maneira mais prática.
Outro dia, quando Ocô voltou sem solução, o rapaz tinha feito fogo, protegendo-o com lascas de pedra.
Viram então que a pedra se derretia no fogo.
A pedra líquida escorria em filetes que se solidificavam.
“Que ótimo instrumento para cavar!”, descobriu efusivamente o inventivo rapaz.
Ele pôde então usar o fogo e fazer lâminas daquela pedra, e modelar objetos cortantes e ferramentas pontiagudas.
Ele fez a enxada, a foice e fez a faca e a espada e tudo o mais que desde então o homem faz de ferro para transformar a natureza e sobreviver.
O rapaz era Ogum, o orixá do ferro.
Juntos resolveram a terra e plantaram e os alimentos foram abundantes.
E a humanidade aprendeu a plantar com eles, cada família fez a sua plantação, sua fazenda, e na Terra não mais se padeceu de fome, e Ocô foi festejando como Orixá Ocô, o Orixá-da-Fazenda, da plantação, pois fazenda é o significado do nome Ocô.
E Ogum e Orixá Ocô foram homenageados e receberam sacrifícios como os patronos da agricultura, pois eles ensinaram o homem a plantar e assim superar a escassez de alimentos e derrotar a fome.
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