OXUM É TRANSFORMADA EM PAVÃO E ABUTRE
Oxum por Carla Nickerson |
Nos primeiros tempos do mundo,
aconteceu uma rebelião dos orixás contra Olodumare.
Achando que o Senhor Supremo vivia muito distante de tudo,
os orixás decidiram não lhe prestar mais obediência,
dividindo entre eles mesmos todo o poder do axé (*),
pensando até mesmo em destronar Olodumare.
Quando a notícia da conspiração chegou aos ouvidos de Olorum,
sua reação foi simples e imediata:
retirou a chuva da Terra e a prendeu no Céu.
Não tardou para que o Aiê fosse atormentado por terrível seca.
Com a seca veio a fome e com a fome veio a morte.
Os homens começaram a morrer.
Logo o ronco das barrigas e a palidez das faces
começaram a falar mais alto
que o orgulho dos rebeldes e seus planos de levante.
Unanimamente os orixás decidiram ir a Olodumare
implorar por perdão, esperando que a chuva caísse de novo
e que tudo o mais na Terra voltasse ao normal.
Mas eles tinham um problema:
como chegar à inalcançável e distante casa do Senhor Supremo?
Enviaram todas as espécies de pássaros,
que voavam para o Céu até o total esgotamento,
sem sequer se aproximar da casa de Olodumare.
As esperanças já se diluíam em tanto fracasso.
A seca e a fome devastavam a Terra e seus habitantes.
Foi quando Oxum resolveu intervir.
Transformada num belíssimo pavão,
ela se prontificou a ir até Olodumare.
Um tremor de gargalhadas sacudiu a Terra.
Como aquela criatura pretendia voar até o inalcançável?
Justamente aquela mimada, vaidosa e fútil ave!
"Vais acabar te machucando, gracinha", riam os orixás.
Mas como nada tinham a perder, aceitaram.
E lá, se foi Oxum-pavão seguindo em direção ao sol,
voando às alturas do Orum em busca do palácio do Senhor.
Voando mais alto e mais alto, a ave perdia as forças,
mas não desanimava de sua inquebrantável determinação.
O sol foi enegrecendo suas penas, muitas se queimaram.
As penas da cabeça ficaram ressequidas e quebradiças;
o pavão tinha queimaduras pelo corpo todo,
seu estado era miserável.
Mas lá ia Oxum voando em direção ao sol.
Quase morta, chegou às portas do palácio de Olodumare.
Olodumare se compadeceu da pobre criatura.
Acolheu-a, deu-lhe água e a alimentou.
Por que fizera tão impossível jornada,
ele perguntou ao pavão,
que de pavão perdera toda a graça e beleza.
Agora era uma ave feia, careca e de penas queimadas,
à qual os homens, quando ela voltou, chamaram de abutre.
Fizera o sacrifício pelas suas crianças, a humanidade,
ela explicou ao Ser Supremo.
Olodumare, penalizado com a pobre ave, deu-lhe a chuva
para que ela a devolvesse à Terra.
E nomeou o abutre mensageiro seu,
pois só ele vence a inalcançável distância em que está Olodumare.
O abutre então voltou à Terra trazendo a chuva de volta.
Oxum-abutre trouxe a chuva de volta
e com ela a fertilidade do solo e os alimentos.
E graças a Oxum a humanidade não pereceu.
(*) axé = força mística dos orixás, força vital que transforma o mundo.
Fonte: Mitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi - Cia das Letras
gostei de todos os artigos.
ResponderExcluirObrigada pela visita e comentário, Valéria.
ExcluirVolte sempre que quiser.
Abraços.